Friday, 11 April 2008

Hoje acordei mal disposta...

Considero-me alfacinha de gema. Nasci na Irlanda, o meu pai no Porto e a minha mãe na Guarda e vivi (quase) sempre fora. Mas, mesmo assim, considero-me uma alfacinha de gema. Vivo em Lisboa há dez anos e namoro esta cidade a cada instante. Conhece-lhe os segredos, as ruelas íngremes que serpenteiam o Príncipe Real, as tascas sonoras da Madragoa, a vista ostentosa de São Vicente de Fora. De minha casa vejo (empoleirada na minha da varanda num desafio à gravidade, mas vejo!) o Cristo-Rei com a ponte e o Tejo os seus pés.
Outro (suposto) encanto de Lisboa é a sobejamente conhecida calçada portuguesa, aquele puzzle preto e branco que se desenha sob os nossos pés. É lindo, sim senhora, mas ou se é equilibrista ou então só de sapatos de montanhismo, daqueles com picos e tudo porque nem uns míseros ténis rasos servem! Alguém aguenta mais do que cinco minutos sem um ameaço de queda, daqueles em que o tornozelo treme todo mas, como se por milagre, mantemo-nos em pé?
É esta calçada que me obrigada a pôr as botas novas no sapateiro ao fim de umas parcas horas de uso. É esta calçada que me faz ir ao sapateiro mais vezes do que vou à casa de banho. É esta calçada que me prende os saltos nas pedras mal calcetadas e faz com que o meu pé, descalço e desamparado, fique um metro à frente do respectivo sapato e me obriga a voltar ao pé-coxinho para recuperar o dito cujo salto já está completamente roído pelos passeios. E claro, tudo isto acontece, invariavelmente, num dia de chuva em que estamos cheias de pressa e, invariavelmente, em frente a um grupo de rebarbados que , invariavelmente, guincham “Olha a Cindarela perdeu o sapatinho”…
Amo Lisboa, mas passo-me com esta calçada, porra!

1 comment:

  1. Eu acho mesmo que se devia passar a chamar a "Descalçada Portuguesa"!

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