Change is the essence of life. Be willing to surrender what you are for what you could become.
Como poderão ter reparado, o blogue formerly know as B’necas está em remodelação. Tal como nos faz bem mudar de look, cortar o cabelo, começar a usar uma cor que nunca vestimos antes, pôr uns saltos que nunca antes ousámos calçar… também o nosso querido blogue precisa de um make-over de vez em quando. Depois de quase dois anos de b’necadas, chegou a altura de rebaptizar e redinamizar o blogue. Passa a chamar-se o The Evil Twin. É o nome que daria à minha banda: à falta de carreira musical, exploro este sonho - como exploro tantos outros - através do blogue. Aos poucos vamos introduzindo novos designs, novas imagens, novos fonts…
Não é segredo para ninguém que há dois temas recorrentes e predominantes no B’necas: moda (ou não fossemos nós bonecas de luxo!) e música. A música é claramente o meu maior interesse, uma paixão que pauta a minha vida, os meus humores, as minha emoções. O meu Pai é um melómano inveterado, o gira-discos tocava incessantemente lá em casa, o meu budget é maioritariamente estoirado em CDs, concertos, artilharia para o meu i-pod… Não consigo conceber a vida sem música. No meio de tanto post que já aqui escrevi ligado à música, não deixa de ser curioso que, salvo erro, nem um único é sobre música clássica. Não sei se por medo de ser pretensiosa, de cair nos clichés que já toda gente leu e escreveu sobre música dita erudita, se porque não tenho expertise suficiente para criticar gravações e reedições… Mas desde sempre que a música clássica faz parte da minha cultura musical. Com anos de aulas de ballet e de piano, já tratava por tu as escalas de Scarlatti, o Notenbüchlein da Anna Magdalena Bach, as variações do Debussy, Prokovieff, Mussorgsky… Acresce a isso que tive a imensurável sorte de ter vivido em Paris e em Moscovo que, a par de Milão e Viena, são as capitais emblemáticas da música clássica. Quando vivi na Rússia, um concerto de música clássica custava pouco mais que o equivalente a uns míseros 5 euros. Não se ia ao cinema (os bilhetes para filmes em versão original ultrapassavam as dezenas de euros…), não se saía à noite (prostituição, máfia e afim…), não se passeava na rua (demasiado frio), não havia centro comerciais para fazer lèche vitrine… Então os programas e dates eram passados a ver bailados e concertos de música clássica. Aprendi, julgo que por todas estas razões, a nunca tratar de forma diferente a música clássica da pop, da electrónica, do hip hop… é tudo música. E a música divide-se em apenas duas categorias: boa e má.
E ontem ouvi música boa, acompanhada de coreografias maravilhosas.
“Serenade”, o emblemático bailado neoclássico do Balachine.
E, o meu eleito da noite, “Adagio Hammerklavier” do coreógrafo holandês Hans Van Manen.
A coreografia é linda, etérea, transparente, com muito movimento junto do chão, de um rigor e exactidão matemáticos.
Mas o que a torna esta coreografia memorável é a Große Sonate für das Hammerklavier, a composição de Beethoven sobre a qual é dançada. Julgo tê-la ouvido pela primeira vez ontem (ignorância minha porque, ao googlar “sonata n.º 29 em si bemol maior Op. 106” esta manhã, apercebi-me que esta é uma obra incontornável do mestre alemão) e fiquei arrepiada: a combinação dos movimentos com o choro de um piano que parecia suspirar deixou-me comovida como há muito tempo um espectáculo não o fazia.
Não percam.
Vão ver este espectáculo. Vão ao ballet! Apoiem a CNB. Apoiem o Teatro Camões. Apoiem as boas iniciativas que ainda se fazem no panorama cultural português porque a qualidade é tão escassa e rara hoje em dia que é urgente mostrar que espectáculos destes devem ser feitos, repetidos, financiados e louvados.
Baseado no livro de Christopher Isherwood, adaptado, realizado e produzido por Tom Ford, A Single Man conta a história de George Falconer, um professor universitário na Los Angeles dos anos 60, que luta para descobrir o sentido da vida após a morte trágica do seu companheiro, Jim. É uma história de amor que, por acaso, acontece entre dois homens: a homossexualidade é, realmente, um elemento secundário, casual, irrelevante quase.
O filme não ganha tanto pela narrativa nem pela trama mas essencialmente por todas as componentes artísticas: o guarda-roupa, como seria de esperar, é absolutamente fabuloso; a música reforça a melancolia e beleza da história; as cenas em silêncio são mais intensas que os diálogos; os cenários, desde a casa de vidro em que vive o protagonista aos corredores da universidade a fotografia não deixa nada ao acaso (os tons tristes, cinzentos e castanhos da vida de George, contrapostos às cores vivas das memórias da vida com o Jim ou da família ideal que vive na casa ao lado).
Mas o grande argumento do A Single Man é o Colin Firth que carrega o filme às costas (aparece em todas as cenas) e interpreta aquilo que é capaz de ser o papel da carreira dele.
E se, ainda assim, não se convenceram a ver o filme, há uma razão validíssima para fazê-lo: o curto cameo do modelo espanhol Jon Kortajarena (que já pousou em campanhas da marca Tom Ford). De babar. Mesmo.
Bonnie & Clyde é o meu casal de ficção predilecto. Não sei quantas vezes vi o filme do Arthur Penn nem quantas vezes tentei emular o estilo da Faye Dunaway… Por isso não é de estranhar que esteja a babar com o editorial da Harper’s Bazaar para o próximo mês, com o Wes Bentley – o menino do saco de plástico do American Beauty – e a Anna Selezneva, sob a perspectiva do génio que é o Peter Lindbergh.
A minha veia nerd faz de mim uma admiradora da dramaturgia da Grécia Antiga, em particular das tragédias gregas (vem-me à cabeça a brilhante reposição de Fedra, no Maria Matos, com uma interpretação divinal da Beatriz Batarda). Sendo certo que Aristófanes representa antes a Comédia Antiga, foi com entusiasmo que me decidi a pôr em prática uma das minhas resoluções para este ano e fui ontem ver o A Cidade, a mais recente peça de Luis Miguel Cintra que está agora em cena no São Luiz. Composto por várias peças de Aristófanes, o encenador conta que “o processo de elaboração do espectáculo acabou por ser muito livre. Fui escolhendo cenas um pouco sem coerência, com o meu entusiasmo, e depois construí a peça como um puzzle”. You can say that again. Falta de coerência é mesmo o melhor que se pode dizer da peça porque acontece que o dito puzzle, que é como quem diz o resultado final, é uma valente merda. A peça tinha tudo para resultar mas falhou redondamente. Os textos originais são brilhantes mas a adaptação massacrou-os e destitui-os de qualquer subtileza, humor, eloquência e qualidade. Os diálogos são básicos, brejeiros e 99% das (supostas) piadas envolvem asneiras e/ou referências a órgãos sexuais. O encenador é conceituado mas não soube passar a mensagem para o público. O teatro é lindíssimo mas os problemas de som eram flagrantes. O é elenco de luxo mas não salva a peça: juntam-se os grandes nomes da Cornucópia – como a Teresa Madruga, de quem sou uma grande admiradora e que, diga-se, é a excepção do grupo e faz um grande papel – aos meninos d´Os Contemporâneos (um clap clap clap ao Dinarte Branco e Gonçalo Waddington, a minha celebrity crush portuguesa por excelência (♥!) mas que aparece pouquíssimo, infelizmente. E um grande apupo ao Nuno Lopes, a maior desilusão de todas… péssima dicção, zero inovação em relação a de papéis anteriores: onde está o Nuno Lopes do Alice?!). Esta amálgama de actores ditos “clássicos” com comediantes e protagonistas das telenovelas pretende dar ligeireza à supostamente pesada antiguidade clássica, com cenas em que deuses gregos discutem ao lado de um Bruno Nogueira a dançar de i-pod nos ouvidos, ou em que Eurípedes fala em calão… mas não funciona. Pior ainda quando Luis Miguel Cintra pretende limitar a metáfora universal a Lisboa, numa cena musical, digna de revista, com direito a marchas e faduchos populares. A acrescer a isto tudo a peça demora nada mais nada menos do que 3h45. Para o fim já não sentia os rins, um suplício autêntico.
Desilude-me tanto que, quando tento ser defensora do teatro e produções nacionais, me deparo com desgraças desta envergadura. Não há uma coisa positiva a dizer da peça. Choca-me pensar que o Ministério da Cultura subsidia merdas destas em detrimento de outros projectos com verdadeiro talento e qualidade. É triste.
E pelos vistos não sou a única a pensar assim. Deixo-vos alguns exemplos dos comentários que os espectadores deixam no site oficial do São Luiz.
“De longe a pior que já assisti no teatro. O argumento é demasiado básico (eu diria mesmo um insulto) e na falta dele a peça recorre à piada barata, ordinária e fácil em torno do tema sexualidade. Os actores tiveram que desnudar algumas partes (inclusive) menos próprias do corpo para conseguir acordar uma audiência meio a dormir (literalmente!). Além disso, no 2o balcão o som era insuficiente e muitas das falas dos actores não chegavam até lá.”
“Já não assisti ao resto porque declarei a peça como "perda de tempo" e juntamente com alguns amigos já não voltámos para a 2a parte. Não me arrependi pois o que ficaram até ao fim dizem que ainda conseguiu piorar. Assim, não vale a pena ir ao teatro. Definitivamente, não recomendo. Reparei que alguns alunos tinha sido recomendados para ver esta peça. Tenho pena porque foi deseducativo. Espero que não tenham ficado a pensar que isto é que é o teatro.”
“Nenhum teatro devia comprar esta peça. Nenhuma peça deve demorar 3H45 no São Luiz. Não sei de quem tenho mais pena: das pessoas ou dos actores.”
“Provavelmente a pior peça que vi. Foram 3 horas perdidas.”
“Crítica social? Arte? Sátira política? Quim Barreiros faz o mesmo, com muito maior eficácia. A pior peça que vi em toda a minha vida: lamentável brejeirice saloia pseudo intelectual. Pena é ver alguns (poucos) bons actores a serem totalmente sacrificados em palco, durante mais de 3h30, longas e injustificadas.”
“Numa palavra: horrível. Tinha tudo para ser bom: a garantia de qualidade da Cornucópia, as "caras da televisão" que garantiriam leveza aos Antigos, o S. Luiz...e o Cintra. O que se passou foi teatro de revista. Mau. Piada fácil, actores colados a registos televisivos e cantadeiras de bairro. Não se adaptou Aristófanes, estragou-se qualquer possibilidade de o fazer.”
“Foi sem duvida a pior peça que vi até hoje. Sem interesse, com uma linguagem incompreensivelmente grosseira sem a menor piada e encenações de francamente de baixo nível. O elenco (Maria Rueff, Bruno Nogueira, Nuno Lopes, entre outros...) não nos habituou ao que se viu. Sai antes de meio com vontade de pedir reembolso dos 20€ que paguei. Muito mau, mesmo!...”
“Uma das piores peças que já vi em toda a minha vida, pior mesmo que algum teatro amador com fracos recursos. Considero um roubo cobrar para ver aquilo que apelidaram de peça de teatro! Não se percebe onde começa e acaba a peça. A mensagem pura e simplesmente não passa. Foram horas e horas de tédio. Esqueceram-se que o teatro serve também para entreter o público? A sala não tinha sistema de som, mal se ouviam as falas dos actores.”
Em vésperas das Semana da Moda de Londres e Paris, Alexander McQueen - o enfant terrible do East End, suicidou-se. Perdemos um dos mais marcantes criadores dos últimos tempos. Um génio. Que desgosto :'(
Como já aqui vos contei, passei parte da minha tenríssima infância na Cidade do Cabo. É de lá que datam as minhas primeiras (e mais maravilhosas) memórias e, ainda que nunca mais tenha voltado àquele país, hei de ter sempre uma ligação muito especial com a África do Sul. Recordo o vento quente, uma espécie de abraço soalheiro que me envolvia todas a manhãs a caminho da escola. Lembro-me da Anoria que me ensinou a cantar os parabéns em xhosa. Das idas a Ceres colher cerejas às toneladas, da minha primeira amiga de sempre, a Karen Ahrends, e de tantas outras coisas que me proporcionaram a melhor infância que uma criança pode desejar. Vivi (in)felizmente à margem do turbilhão político que marcava aquela época (andava num colégio que não alinhava com o apartheid, era demasiado nova para estar acordada à hora do telejornal e o meu maior dilema era saber se brincava às barbies ou aos pequenos póneis) mas os meus pais ainda guardaram uma série de memorabilia que hoje me fascina – desde cartazes do ANC a crachás com o famosíssimo número 46664. Hoje, que passam 20 anos sobre a libertação do Nelson Mandela, fui invadida por uma nostalgia inexplicável que originou este post. Lembro de acompanhar em directo aquela comoção, aperceber-me claramente que aquilo era history in the making e pensar o quanto aquilo me emocionava. E agora que a África de Sul está tão na berra – desde o Invictus ao tão esperado campeonato do mundo – torna-se cada vez mais evidente que Mandela, o humanitário por excelência, é um herói e um exemplo para todos nós, sejamos sul-africanos ou não.
Depois dos anúncios do Super Bowl que ontem vos presenteei, deixo-vos agora com uns belíssimos exemplos de publicidade para a imprensa. Tirado, descaradamente, daqui.