
Há um tema recorrente nas obras do austríaco Michael Haneke (que realizou os tão perturbantes quanto brilhantes A Pianista e Funny Games): a violência. Não tanto a violência gratuita e explícita – não há propriamente sangue a jorrar à la slasher movie – mas é bem mais inquietante do que isso: é a violência subtil, não filmada mas insinuada. É a relação do Homem com a crueldade. É o Mal.
O Das weisse Band - Eine deutsche Kindergeschichte – vencedor da Palma de Ouro em Cannes e do Golden Globe para melhor filme estrangeiro – não é excepção e aborda novamente essa temática com uma força e beleza a que é impossível ficar indiferente.

Passado numa remota aldeia no norte da Alemanha em vésperas da I Guerra Mundial, o filme relata a estranha sucessão de acontecimentos atrozes que minam a pacatez e as relações daquela pequena comunidade agrícola, gerando-se um ambiente de desconfiança e ódio que nos deixa, a nós espectadores, numa tensão incrível.
O contexto histórico não é por acaso: passado nas vésperas do assassinato do Franz Ferdinand num país prestes a entrar numa guerra que resultaria em milhões de mortos e na humilhante derrota da Alemanha, Haneke oferece-nos a sua justificação para “a origem do todo o tipo de terrorismo, quer político quer religioso”.

De facto, aquelas crianças reprimidas, educadas naquela frieza, austeridade e rigidez, por meio do medo, viriam a ser, mais tarde, jovens adultos durante o Terceiro Reich. O filme prova que pensamentos, feitos e superioridades morais – naqueles termos hipócritas – podem causar não apenas ideias fascistas mas também o extremismo religioso por detrás do terrorismo dos nossos dias. Haneke encontrou, em algo que se passou há um século, um paralelismo incrivelmente subtil com a actualidade.

Narrativa à parte, o Das weisse Band ganha ainda pela fotografia absolutamente deslumbrante: a recriação da época e do local são arrebatadores.
Preciosa informação B'neca! A minha curiosidade está completamente espicaçada.
ReplyDelete