Não é segredo para ninguém que há dois temas recorrentes e predominantes no B’necas: moda (ou não fossemos nós bonecas de luxo!) e música.
A música é claramente o meu maior interesse, uma paixão que pauta a minha vida, os meus humores, as minha emoções. O meu Pai é um melómano inveterado, o gira-discos tocava incessantemente lá em casa, o meu budget é maioritariamente estoirado em CDs, concertos, artilharia para o meu i-pod…
Não consigo conceber a vida sem música.
No meio de tanto post que já aqui escrevi ligado à música, não deixa de ser curioso que, salvo erro, nem um único é sobre música clássica. Não sei se por medo de ser pretensiosa, de cair nos clichés que já toda gente leu e escreveu sobre música dita erudita, se porque não tenho expertise suficiente para criticar gravações e reedições… Mas desde sempre que a música clássica faz parte da minha cultura musical. Com anos de aulas de ballet e de piano, já tratava por tu as escalas de Scarlatti, o Notenbüchlein da Anna Magdalena Bach, as variações do Debussy, Prokovieff, Mussorgsky…
Acresce a isso que tive a imensurável sorte de ter vivido em Paris e em Moscovo que, a par de Milão e Viena, são as capitais emblemáticas da música clássica. Quando vivi na Rússia, um concerto de música clássica custava pouco mais que o equivalente a uns míseros 5 euros. Não se ia ao cinema (os bilhetes para filmes em versão original ultrapassavam as dezenas de euros…), não se saía à noite (prostituição, máfia e afim…), não se passeava na rua (demasiado frio), não havia centro comerciais para fazer lèche vitrine… Então os programas e dates eram passados a ver bailados e concertos de música clássica.
Aprendi, julgo que por todas estas razões, a nunca tratar de forma diferente a música clássica da pop, da electrónica, do hip hop… é tudo música. E a música divide-se em apenas duas categorias: boa e má.
E ontem ouvi música boa, acompanhada de coreografias maravilhosas.
A Companhia Nacional de Bailado estreou um novo espectáculo com três coreografias.
“Cinco Tangos”, o ex libris argentino dançado em pontas ao som de Astor Piazzola.
A maravilhosa Ana Lacerda
O pas de deux de Carlos Pinillos e Ana Lacerda
“Serenade”, o emblemático bailado neoclássico do Balachine.
E, o meu eleito da noite, “Adagio Hammerklavier” do coreógrafo holandês Hans Van Manen.
A coreografia é linda, etérea, transparente, com muito movimento junto do chão, de um rigor e exactidão matemáticos.
Mas o que a torna esta coreografia memorável é a Große Sonate für das Hammerklavier, a composição de Beethoven sobre a qual é dançada.
Julgo tê-la ouvido pela primeira vez ontem (ignorância minha porque, ao googlar “sonata n.º 29 em si bemol maior Op. 106” esta manhã, apercebi-me que esta é uma obra incontornável do mestre alemão) e fiquei arrepiada: a combinação dos movimentos com o choro de um piano que parecia suspirar deixou-me comovida como há muito tempo um espectáculo não o fazia.
Não percam.
Vão ver este espectáculo. Vão ao ballet! Apoiem a CNB. Apoiem o Teatro Camões. Apoiem as boas iniciativas que ainda se fazem no panorama cultural português porque a qualidade é tão escassa e rara hoje em dia que é urgente mostrar que espectáculos destes devem ser feitos, repetidos, financiados e louvados.
Para vos aguçar o apetite:
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