Muito por influência da minha Mãe sou grande apreciadora de folk e, em particular, de música de intervenção dos anos 60 e 70. O amontoado de vinis lá em casa era composto por nomes como Serge Reggiani, Joan Baez, Victor Jara, o incontornável Bob Dylan e, claro está, Zeca Afonso que, se fosse vivo, fazia amanhã 79 anos.
Muitos dos artistas dessa época, como o Zé Mário Branco, o Adriano ou o Fausto, pararam no tempo e dificilmente nos identificamos com as canções que fazem hoje (excepção feita ao Sérgio Godinho que, ainda assim, conseguiu acompanhar minimamente a mudança dos tempos). As protest songs de hoje, quer sejam contra o Iraque quer contra a fome no mundo ou outra qualquer causa nobre, são lamechas, todas iguais, na onda do “We are the world” e invariavelmente com a participação do Bono Vox. E o facto da música de intervenção de referência em Portugal dos últimos anos ser o “Timor” do Luis Represas diz muito sobre o estado actual das coisas…
Fico-me assim pelos idos anos do peace and love e defendo que, independentemente da orientação política de cada um é impossível não reconhecer o imenso talento do Zeca Afonso e a força das letras e músicas que ele criava. O Grândola Vila Morena (que relegou o “E Depois do Adeus” do Paulo de Carvalho como referência do 25 de Abril para o esquecimento), por muitas vezes que seja tocado, explorado e associado ao cliché revolucionário, é uma canção potente: aqueles passos na gravilha dos soldados a marcar o ritmo arrepiam-me sistematicamente. Adoro quando a minha Mãe, que andava na faculdade nos anos quentes que antecederam ao 25 de Abril, conta como assistia aos concertos clandestinos do Zeca Afonso e, já adulta, ao último espectáculo que ele deu no Coliseu em 1983.
Assim, em homenagem ao senhor que tinha o nome do meu avô, as palavras ásperas e a voz doce, e uma vez que tenho de vir ao escritório trabalhar, venho apetrechada com os CDs do grande Zeca Afonso e vou ficar a ouvir Cantigas de Maio, A Morte Saiu à Rua, Venham Mais Cinco, Os Vampiros, Maio Maduro Maio e a Canção de Embalar. E tantas outras.
Bom fim-de-semana.
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