Wednesday 28 May 2008

O segundo sexo

Se eu soubesse que este blogue é lido por mais do que 2 pessoas avisava assim à cabeça que este post pode ser uma surpresa pela extensão e tom sério que são, para mim, uma excepção. Mas como não é, desconsiderem dito aviso...

Ontem à noite tive um furo em plena Marginal e a primeira coisa que fiz foi pegar no telemóvel para ligar ao meu namorado ou primo ou vizinho... Nisto, a minha (destemida) companheira de viagem disse-me “Mas vais ligar-lhe porquê? Mudamos nós, anda!”. Eu que sou tão leiga em mecânica que quase achava que o macaco era um símio genuíno que vivia escondido no meu porta-bagagens, lá ajudei a minha co-pilota (tentar) trocar o pneu que nem pit-stop de F1. Sem força suficiente para levantar o carro (um monovolume!) ou soltar as porcas da roda, tivemos de pedir ajuda a um macho alfa que acabou por nos salvar daquele triste cenário.
Aí apercebi-me: sou uma merdas: dependo dos homens quando nunca o quis e sempre advoguei a minha independência.

A verdade é que sou (ou pretendo ser) feminista, há uma Simone de Beauvoir em mim que, de vez em quando, manifesto.
O facto de eu não saber mudar um pneu não é culpa minha mas antes da Sociedade que sempre incutiu que eu devia brincar às bonecas e carros é coisa de rapaz. O mesmo se passa com o futebol: jogo num torneio de futebol feminino em que todas as meninas da minha equipa só jogaram à bola a sério pela primeira vez no nosso jogo de estreia no dito torneio. Já os rapazes nascem com o esférico no pé…

Depois da luta dita “feminista” do início do século passado e findo os tempos da queima dos soutiens dos anos 60, vivemos finalmente – pelo menos nas sociedades ocidentais democratas – num mundo em que há, teoricamente, total igualdade entre ambos os sexos, com as devidas diferenças onde elas devem existir.
Expliquem-me então porque é que:
1. Há o Dia da Mulher? Este é, para mim, o maior exemplo do paternalismo que se criou para remediar as ainda persistentes e gritantes disparidades entre o estatuto do homem e da mulher. Mas que merda é esta de nos dar um dia em 365 em que andam aí a distribuir lacinhos cor-de-rosa do cancro da mama e rosas a desejar “feliz dia”. Então os restantes 364 dias? São todos dias do homem?
2. As mulheres detêm apenas 1% da riqueza mundial e ganham 10% das receitas mundiais, apesar de constituírem mais de metade da população mundial?
3. Continuamos sub-representadas em todas as instituições de influência e corpos legislativos mundiais? A percentagem de mulheres em legislaturas nacionais, por exemplo, é em média apenas 9%.
4. As mulheres ganham quase sistematicamente 30% menos do que os homens, mesmo quando têm o mesmo emprego? Trabalho numa sociedade com, pelo menos, 60% de mulheres em que, de 18 sócios, apenas 4 são mulheres e só 3 delas têm filhos.
5. O peso da família é infinitamente maior par a mulher? As tarefas domésticas e a educação dos filhos continua a ser prioridade das mães que muitas vezes sofrem consequências gravosas nos empregos por terem esse encargo acrescido em casa ou por ter estado fora 4 meses (quando podem gozá-los por inteiro!) em licença de maternidade.
6. Há uma pressão muito maior para que uma mulher com 30 anos tenha perspectivas de casamento e filhos? Se é solteira, é “solteirona”. Se teve vários namorados, é uma “pêga”. Já um homem solteiro de 30 anos é garanhão com a vida pela frente…

Não sei se algum dia teremos um tratamento igual ao dos homens. Nem sei mesmo se o quero. A verdade é que gosto dos gentlemen que me abram as portas, se levantem quando eu entro numa sala e ainda mais quando se oferecem para pagar a conta.

Deixo assim um post gigante e inconclusivo. Mas “remember, Ginger Rogers did everything Fred Astaire did, but backwards and in high heels”.
Girl power.

1 comment:

  1. Muito bom. Confesso que eu sou mesmo daquelas que não quer a igualidade dos sexos... Para quê saber trocar um pneu, pregar quadros, mexer em fios, carregar móveis, matar aranhas e bichos quando um homem nos pode fazer isso tudo?! Nós somos o sexo fraco, sim, mas por pura opção! DEIXEMOS PARA OS HOMENS O TRABALHO SUJO! (o que não quer dizer que se organizares uma queima de soutiens eu não compareça! Estou sempre pronta para uma boa galhofa!)

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