A epítome do programa infantil é a Rua Sésamo. Houve desenhos animados de que gostei mais, houve outros programas que acompanhei mais tempo mas nada é tão expressivo e marcante quanto a Rua Sésamo. Ainda hoje sei de cor as letras do genérico: “Sooool nasceu… Veeeem brincar, traz um amiiiigo teu! E aaaaaoo chegar, tu vais poder também ensinar como se vai até à Rua Sésamo, até à Rua Sésamo!”. Há momentos da Rua Sésamo que já fazem parte da cultura popular: quem não reage à pergunta “queres uma banana?” com “Uma banana, duas bananas, uma p’ra mim outra p’ra ti banana, são três ou quatro ou ainda mais bananas, nunca verás uma banana só!”. Ou ao “Olha, o teu telefone está a tocar” responde-se, invariavelmente, a cantar “O telefone está a tocaaaar! Sou atender, vou saber quem me quer falar!”.
O maravilhoso da Rua Sésamo – para além do óbvio lema do “aprender a brincar” – é a interacção das pessoas com os bonecos que começavam, eles também, a ter vida! Eu imaginava sinceramente o Poupas a chegar a casa, cumprimentar a Sra. Poupas com um beijinho “Então, ‘mor, que tal o dia?”. E o Poupas descalça-se, acende um cigarro, “pá, nem me digas, aquele Guiomar tira-me do sério!”. Sempre embirrei com o Poupas, por acaso, e achava-o francamente assustador. Nunca gostei de aves e uma pássaro gigante amarelo fluorscente não era propriamente a coisa que me transmitia mais paz, vá-se lá saber porquê. Mas depois havia todos os personagens emblemáticos dos Marretas que davam uma perninha à Rua Sésamo e faziam a festa: o Becas e o Egas (que hoje vejo que eram, claramente, o casal gay do bairro), o Sapo Cocas, a Miss Piggy, o Ferrão, o maravilhoso Conde Kontarrr…
Para além do afecto que todas as pessoas que já foram crianças nutrem pela Rua Sésamo (e acreditem, ele há gente que nunca foi criança. O Benjamin Button, por exemplo, e uma das funcionárias da Repartição de Finanças do 2.º Bairro Fiscal, ali na Rodrigo da Fonseca que já nasceu amarga e anil), tenho ainda um carinho muito especial pela Rua Sésamo porque foi lá que me estreei enquanto actriz/cantora. É verdade. No idos anos de 1989, julgo eu, contracenei com uma série de personagens da Rua Sésamo (o Monstro das Bolachas, para meu grande desgosto, devia estar de baixa) numa emissão especial de Natal. O casting foi feito no colégio e lá fui eu e uns outros felizardos do coro cantar umas musiquinhas de natal, dar uns passinhos de dança, falar um bocadinho com a Gata Tita e não sei mais quem. E assim se passaram os meus 15 minutos de fama. Confesso que, ainda que triste que o ponto alto da minha carreira artística tenha sido aos 7 anos, é com muito orgulho que o vivi na Rua Sésamo.
O que eu me ri ao ler este post! Não só porque, em retrospectiva, também me parece que o Egas e o Becas eram o sub-plot gay lá da zona (ainda que o Egas tivesse aquela monocelha pouco coincidente com a estética gay), como em pequena também achava que aquela bicharada existia mesmo e que devia ser um drama para o Ferrão viver naquela pipa T0, de cada vez que chovia. E muitas foram as vezes que cheguei atrasada à ginástica, porque tinha religiosamente de ver a Rua Sésamo até ao fim (Moral da história, hoje só não sou uma Nadia Comaneci por culpa dos horários de emissão da rtp durante a década de '80)...
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