Saturday 8 January 2011

That Was The Year That Was, Tom Lehrer (1965)


Espanha foi campeã do Mundo. O impronunciável vulcão islandês estragou as férias a milhares de veraneantes. O terramoto afundou o Haiti ainda mais na miséria. A BP destruiu o golfo do México. A cultura ficou empobrecida com as mortes de Éric Rohmer, J.D. Salinger, Alexander McQueen, Dennis Hopper, Saramago, Tony Curtis e Arthur Penn, A “crise” não passou. O resgate dos mineiros chilenos foi das poucas boas notícias que tivemos. Assim como o lançamento do i-pad (wohoo!).
2010 foi um ano igual a tantos outros: recheado de tragédias, desgostos e angústia e umas tantas alegrias aqui e ali. Nenhuma novidade significativa ou verdadeiramente revolucionária.

Mas a nível pessoal tive muitas novidades, algumas delas revolucionárias. E, claro, como qualquer adulto, tive a minha quota-parte de desgosto e angústia.


Ganhei mais um sobrinho. Embora a minha irmã e o meu cunhado tenham contribuído em muito para a criação e o nascimento deste petiz, a verdade é que olho para aqueles enormes olhos azuis e doce sorriso desdentado e penso que ele é a prova acabada de que Deus existe e cria as maiores maravilhas.


Mudei de emprego. Foi para melhor, mas nas piores circunstâncias. Já aqui confessei inúmeras vezes o meu profundo desgosto e arrependimento em ter seguido Direito, ter feito o inferno tenebroso que é a Ordem e ter trabalhado num verdadeiro circo de desonestidade, promiscuidade e ganância que é um escritório de advogados. Nem tudo é mau, claro: fiz lá amigos para a vida, conheci pessoas apaixonantes, tive experiências profissionais e pessoais enriquecedoras. Mas foram anos de pressão, desgaste e insatisfação que não desejo a ninguém.
Mudei em Junho e agora adoro o que faço. Trabalho num hedge fund e outros produtos de investimentos num banco (muitos de vós bocejarão mas juro-vos que é mesmo giro!). Mas, mesmo os mais desligados saberão que se há sector onde as coisas estão a dar para o torto, é este. É mais seguro investir numa empresa têxtil do interior cheia de operários manetas e cegos do que apostar na continuidade do meu emprego. Vivo com a guilhotina ao pescoço sem saber se só vou trabalhar aqui mais um dia, um mês, um ano, uma década…


Comprei a minha casa
. Era um dos projectos que mais ambicionava. Adoro o meu apartamento. Adoro o bairro. Adoro tudo. Mas odeio ter um crédito à habitação que me consome 60% do meu rendimento e que me obriga a fazer uma ginástica financeira inimaginável para não ter der me prostituir ao fim do mês para poder pagar as contas (e digo-vos que morando a 2 minutos do Parque Eduardo 7º, já pensei nisso mais do que uma vez!).


Os meus pais estão velhos. Não sei se ficaram velhos este ano ou se foi gradual e só este ano me apercebi mas a verdade é que, por várias circunstâncias, dei por mim a olhar para os meus pais e a ver um casal de sexagenários, que o são, e não um jovial e enérgico casal de 30, que era a imagem que mantive deles desde a minha infância. Os meus pais sempre foram muito activos e jovens de espírito, com sonhos, projectos, ambições, cheios de saúde e uma vida social bem mais activa do que a minha. Mas, de repente, foram avós, ficaram mais frágeis, mais magros, menos pacientes, menos tolerantes, mais medrosos, com mais cabelos brancos… O facto de eles envelhecerem assusta-me por tantas razões. Primeiro, porque a velhice é uma merda: ninguém gosta de ser velho, não me venham com essas balelas de que se ganha sabedoria e sapiência. Bullshit. Mas assusta-me sobretudo porque significa que também eu estou a ficar mais velha. Estou à beira dos trinta, esse malfadado número que impõe às mulheres como meta para casar, ter filhos, casa e emprego de sucesso. Fiz um PPR, já não aguento sair até às tantas, já não emagreço de um dia para o outro, já critico os comportamentos, vestimentas e cultura (ou falta dela) das gerações mais novas, já uso mais sabrinas rasas do que pumps de 15cm, já faço cortes de cabelo que me rejuvenesçam.
E (O Fortuna do Carmina Burana toca como música de fundo)… tive o meu primeiro cabelo branco.


E, o mais importante, deste e ano e, provavelmente, de todos os anos a vir, conheci, ou melhor, reconheci o Amor.

Não sei o que 2011 me reserva. Já deixei de fazer planos. Não vale a pena. Mas, claro, tomei algumas resoluções (é impossível deixar passar a oportunidade de desenhar objectivos e melhorar o que podemos e queremos!) e a principal de entre elas é ser feliz com o que tenho. Apreciar melhor a minha sorte, as dádivas e as benesses que tenho, dia após dia.

Espero consegui-lo.

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