Thursday, 21 January 2010

Bon Chien Chasse De Race



Já não é segredo para ninguém que sou francófila dos pés à cabeça, que Paris é a minha cidade europeia de eleição e que os anos em que lá vivi formaram a minha personalidade mais do que outra qualquer convivência e aprendizagem.
O meu amor pela França e os franceses (que, bem sei, não é propriamente consensual por terras lusas) revela-se sobretudo na cultura que aquela nação nos ofereceu: a arte, o teatro, a literatura, o cinema… e, claro, a música.
Desde os clássicos Debussy e Ravel aos Phoenix e Air, passando pelos grandes dos anos 60, tais como a Françoise Hardy (cuja admiração já aqui vos contei) e claro, o enorme, o mítico, o inigualável Serge Gainsbourg.
Independentemente da nossa nacionalidade, geração ou mesmo preferência musical, todos nós reconhecemos que o homem que devia ganhar consecutivamente o prémio de “Melhor Cliente do Ano” da Gauloises e Gitanes, tinha voz de bagaço e encantou a Brigitte Bardot, é uma referência incontornável, com um talento que não esmoreceu com o tempo.
Uma das mais famosas conquistas do Gainsbourg foi a actriz inglesa Jane Birkin (que, recordo-vos, protagonizou o primeiro nu frontal do cinema no irreverente Blow Up de Antonioni), com quem cantou o sensualíssimo Je T’Aime, Moi Non Plus (deliciosamente reinterpretado pela Cat Power há uns anos).
Mas não só de duos musicais se fez a dupla Gainsbourg-Birkin: estes ícones dos swinging sixties tiveram uma filha que herdou o talento, a pinta e a invulgar lascívia dos pais, a Charlotte Gainsbourg.
Descobri a Charlotte Gainsbourg em filmes menores como Jane Eyre, do Zeffirelli ou The Science of Sleep, do Michel Gondry (e anseio agora por vê-la no Anti-Cristo do Lars Von Trier, ainda que o trailer do filme me deixasse um tanto ou quanto angustiada), e ainda como a cara da campanha da Gérard Darel.
Agora reacendi a minha paixão pela família Gainsbourg ao ouvir o álbum que esta demoiselle lançou no início do ano, IRM, que foi co-escrito e produzido pelo Beck (♥!). IRM é a sigla de ressonância magnética em francês e faz referência ao tempo em que a Charlotte Gainsbourg esteve hospitalizada com uma hemorragia cerebral, na sequência de um acidente de lancha que sofreu há dois anos.
As músicas são melancólicas, sente-se a dor e a angústia mas com um lirismo e ritmo característicos de Beck, que dão vontade de cantarolar e dançar, por muito que estejamos em sofrimento.
Um álbum redondo, lindo e triste. Ideal para os dias chuvosos de inverno com que inaugurámos o ano.





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