Sunday 6 September 2009

The Cygnets

No outro dia, em arrumações no meu antigo quarto em casa dos meus pais, encontrei o meu saco do ballet. Um doloroso lembrete que não tive talento, oportunidade nem persistência suficiente para ser a prima ballerina que em tempos ambicionei. O equivalente a ver o meu sonho de infância reduzido a um saco de pano cheio de tralha: 5 maillots, uns 10 pares de collants rosa e brancos, umas dezenas de peças cortadas e rasgadas, desde calções a t-shirts, que vestia nos aquecimentos, as perneiras e o cache-coeur da Repetto oferecidos pela minha irmã, dois pares de sapatilhas da Bloch, umas demi-pointes rotas e dois pares de pontas: umas rasgadas com a caixa à mostra e manchadas do sangue das feridas e calos, e outras novinhas da Freed, lindas, usadas uma só vez, no meu exame final do RAD. Apresentei – juntamente com 3 meninas dez vezes mais talentosas e capazes que eu e que hoje integram corpos de bailado – o célebre pas de quatre do segundo acto do Lago dos Cisnes, provavelmente a variação mais difícil que dancei: vestidas a rigor, o cabelo esticado ao ponto de magoar os olhos, as penas a irritar as orelhas; as mãos suadas dos nervos e do esforço, apertadas para assegurar o difícil equilíbrio, os movimentos incessantes e bruscos da cabeça em sentido oposto aos retirés, o pas de chat sincronizado e fouettés sem poder tocar nas pernas umas das outras… Ainda hoje, ao rever esta variação, fico nervosa e emocionada, particularmente quando executado com a elegância e perfeição das meninas do ABT no excerto que vos deixo. Apreciem porque julgo, sinceramente, que há poucas coisas no mundo tão belas quanto esta.


E, no âmbito do meu pet project do momento que poderia intitular-se "Vamos Lá Dar A Volta A Isto E Ser Feliz - Vou Fazer Tudo O Que Sempre Quis E O Que Muito Bem Me Apetece", voltei às aulas de ballet, a começar amanhã. Duvido que algum dia consiga voltar a dançar os Cygnets mas pelo menos volto a dar uso às Freed que custaram os olhos da cara…
Happy thoughts!

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