Estou certa de que não serei a primeira nem a última pessoa a escrever sobre uma ida ao Ikea mas não resisto. Prefiro pecar pela falta de originalidade do que não lançar aqui, ao vastíssimo público que lê o
B’necas, este apelo: metam o porteiro do Lux à porta do Ikea de Alfragide. Estou a falar muito a sério.
Estou a mudar de casa e vi-me obrigada, pela primeira vez na minha já não tão curta existência, a ir ao Ikea, no domingo passado. Depois do já deprimente cenário de ter de acordar ao domingo com despertador, a manhã foi sempre
down hill a partir daí. Logo à chegada, uma pessoa fica com os ânimos de rastos. Toda aquela zona de Alfragide é de fazer chorar as pedras da calçada: não que eu queira um Ikea no meio do Parque Eduardo VII, no Chiado ou nas dunas selvagens do Guincho mas, caramba!, aquela zona é de meter medo ao susto. Depois, já no próprio Ikea, todo ele muito azul e amarelo, ninguém aguenta mais do que 2 minutos ali sem ficar com uma tremenda dor de cabeça.
A verdade é que sofro de dois males que em muito prejudicam uma ida ao Ikea.
Por um lado, sofro de uma extraordinária falta de poder de decisão.
Já me vejo aflita nos restaurantes com ementas com mais do que 3 pratos, demoro meia hora a decidir e fico sempre a preferir o prato do outro que não escolhi, por isso darem-me a escolher entre 40 camas, 80 armários, 50 cómodas, 100 mesas e mesinhas e mesões, cadeiras, bancos, sofás ou poltronas, cujos preços variam dos 4€ aos 400€… fico logo a suar e com tremores! E com tanta mobília, tanto quarto montado, tanta sala pronta a habitar e tanta cozinha pronta para cozinhar… A certa altura, naquela gigante casa labiríntica de mil divisões, dei por mim a hesitar entre um beliche de crianças e um fraldário: note-se que já não tenho idade para ter cartão jovem nem tenho filhos…
Por outro lado, sou claustrofóbica.
Não sei como é que é o Ikea durante a semana mas posso garantir-vos que aquilo ao Domingo de manhã tem lotação esgotada. A certa altura achei que ia ter de me pôr às cavalitas do casal à minha frente para poder circular.
Ir passear ao centro comercial é
so last season, está
out. Agora giro, giro é ir ao Ikea ao fim-de-semana. É que é tão giro que não dá para ir só o núcleo familiar: têm de reunir pelo menos três gerações e três graus de separação do agregado familiar. Vai a avó, o avô e a tia avó, que se sentem mal "derivado" ao calor e à multidão e sentam-se em cada um dos 30 mil sofás, 20 mil poltronas e 10 mil camas expostas no Ikea. O pai, cumprindo o seu papel de
pater familias e macho latino, percebe de móveis como ninguém e abre todo e qualquer armário, gaveta e móvel, analisa o interior, o material, a dobradiças, abre e fecha repetidas vezes ou bate com força para testar a durabilidade e qualidade… O neto, o bisneto e o primo também vão, tiram 15 lápis cada um e outras tantas fitas métricas. E claro, vai também o primo do primo e a miúda que anda com o primo do primo que, romanticamente (o que implica andarem
sempre de mão dada e
muito lentamente) projectam o novo T2 que estão a pensar arrendar perto da casa da mãe dela. No final do passeio, sem terem comprado um único móvel ou uma única peça que seja, sentam-se no café Ikea a deliciarem-se com o pequeno-almoço Ikea a €1,30 (a esse preço suponho que o croissant venha também em peças separadas e sejamos nós próprios a montar a meia-de-leite…) e ainda acabam por ir almoçar ao Allegro, antes de ir passar a tarde à Makro.
Não que eu seja uma miúda propriamente aventureira ou hiperactiva mas, caramba, consigo pensar em tanta coisa melhor para fazer ao fim-de-semana de manhã…
Há que controlar este fluxo de gente supérflua, destes transeuntes que não vivem o drama de “
como decorar um T4 com 1000€?” ou “
como fingir que um móvel de 40€ é uma relíquia de Art Déco?” ou “
como comprar um quarto, uma sala e uma casa-de-banho em meia-hora?”.
Chega de domingueiros! Aquele gente tem de pagar consumo mínimo! Tem de sair de lá com pelo menos uma estante Billy! O Miguel que guarde a porta do Ikea durante o do dia e a do Lux à noite: é simples e eficaz!