Thursday 19 August 2010

Tanta Roupa E Nada Para Vestir

Acho que pelo menos um terço da minha roupa foi usada uma vez ou ainda está por estrear, com etiqueta e tudo. E em 99% dos casos é por falta de coragem da minha parte, sobretudo peças que compro quando estou fora, especialmente em cidades libertinas como Londres ou NY, e fico imbuída do espírito local e me esqueço que depois tenho de voltar à minha rotina mundana em Lisboa.
Não quero com isto insinuar que sou avant-garde. Tenho perfeita noção de que sigo a moda e não a dito – nem tenho pretensões a tal. Vejo uma look numa revista, anúncio ou pessoa e copio-o, sem dó nem vergonha, usualmente numa versão mais budget das lojas a que toda gente vai e pode ir (raras são as peças vintage ou design no meu armário, infelizmente). Mas a verdade é que os meus ícones da moda, ou pelo menos as pessoas cujo visual mais admiro, são francamente ousadas (e anormalmente magras to boot) pelo que quando imito um look na altura em que compro acho um golpe de génio mas rapidamente me apercebo que não tenho ocasião nem audácia para vestir:

1. Transparências.
Não consigo usar tops ou vestidos transparentes sem ter por baixo um body ou um saiote. Compro sempre a pensar que vou usar com aquela lingerie que mete dó esconder debaixo da roupa mas vejo-me ao espelho e imagino logo os olhares e comentários “Esta gaja não tem noção!” ou no pânico de alguém me parar na rua “ai, a menina não deve ter reparado, mas a sua blusa é transparente”. No shit, Sherlock? Gabo a coragem da über maravilhosa Anna dello Russo.


2. Meias acima do joelho.
A-D-O-R-O. Aliás, Adoro todo o look colegial que tem marcado as colecção Outono/Inverno dos últimos 3 ou 4 anos e voltou em força na campanha da Pepe Jeans com a Alexa Chung. Se vos disser que tenho uns 5 ou 6 par de meias acima do joelho e que só usei um deles, uma vez, em Londres, há precisamente 2 anos e que até hoje nenhum deles viu a luz do dia?


3. Saltos altíssimos.
O meu B.I. diz que meço uns humilhantes 1’62m. Eu gosto de pensar que tenho mais mas a verdade é que sou baixota (salvo em comparação com crianças de 10 anos e a Snooki. Aí sinto-me uma autêntica torre). E, não só por ser baixa mas porque é melhor truque para ficar com um belíssimo par de pernas, adoro usar saltos. Mas nada menos de 10cm. Saltões daqueles que pouca falta para serem andas. Muda a postura, a pose, a atitude, a confiança… Acredito piamente que uma mulher pode estar vestida com um saco de batatas mas se lhe calçarem um par de Christian Louboutain, vai ter a atitude como se estivesse envergando um sexy little number da Gucci. Mas andar com saltos em Lisboa, valha-me Deus! Já aqui me queixei de ter de fazer visitas quase semanais ao sapateiro para ressuscitar os saltos e solas massacradas pela calçada portuguesa. Já para não falar nas pedras soltas e no facto da inclinação média das ruas de Lisboa dever ser uns 45º, que nem a Nádia Comaneci conseguiria equilibrar-se. Experimentem sair ao Bairro Alto de saltos. Preferencialmente numa noite de multidão, e com uns copos a mais. Giro. Muito giro.


4. Sexy.
Há sexy. E depois há p*ta. E confesso que quando compro um vestido mais justo, uma saia mais curta ou um top mais decotado, na altura penso “Sexy!”. Visto em casa, vejo-me ao espelho e penso “que ar de p*tinha, credo!”. Uma vez que fui sair à noite em Milão com uns calções curtos – está bem, muito curtos – que comprei depois de os ter visto nas esguias pernas da Chloe Sevigny. Sentia-me uma freira ao lado das voluptuosas e sensualíssimas italianas que estavam borderline nuas. Repeti o kit uma noite de verão no ano passado em Lisboa e, ao subir a Rua do Norte, vira-se um homem e diz-me “Bom trabalho!”. Foi das frases mais humilhantes que já ouvi e escusado será dizer que esses calções estão religiosamente guardados desde então.


5. Kitsch.
Acho que – a par do girly-romântico – é o meu estilo predilecto: o retro-look à Elaine do Seinfeld, as cores berrantes dos idos anos 90, lantejoulas, correntes douradas, Birkenstocks, calças com pregas à frente… Quem diria que alguma vez vestiria estas roupas que dantes tanto odiava (e gozava, nos serões a ver antigos álbuns de família, quem os tivesse usado). A verdade é que quando, há umas semanas, vesti umas sandálias de salto com a bela da soquete, fui tão gozada pelos meus amigos e apelidada “pé de gesso” o resto da noite, nunca mais ousei tal combinação. Não valia a pena retorquir que eram uns ignorantes e bastava estar minimamente atento à Vogue e aos blogues streetstyle para perceber que era o último grito da moda: a coragem dissipou-se e voltei ao look “soquete-free”.


6. Cliché.
Sem prejuízo do atrás dito sobre seguir a moda e não pretender ser uma trend setter, também não gosto de ser pretensiosa nem cair num cliché. E muito menos usar roupa que vejo em miúdas de 14 anos. Tenho o dobro da idade delas, logo devia ter o dobro de tecido e, pelo menos, o dobro da dignidade. Ao encomendar na net, então, acontece-me invariavelmente: esqueço que as modelos hoje em dia têm pouco mais de 15 anos. Elas ficam risque: eu fico ridícula…

Serei a única a viver este drama fútil?!

4 comments:

  1. Adorei o post e percebo perfeitamente o drama, não estás só!

    Os meus saltos preferidos já me obrigaram a apresentar o meu queixo à calçada da Rua do Diário de Notícias e também experimentei umas calças cigarette de lantejoulas pretas altamente retro-glamour-vintage-ooohhhhlálá que ficavam lindas na manequim e que me faziam parecer a versão bovina do Elton John.

    P.S. Bem-vinda de volta à blogosfera, fazias falta!

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  2. Não conhecia o teu blog, uma amiga enviou-me agora o link e devo-te dizer que não estás definitivamente só.

    De uma ponta à outra descreveste os meus "dramas" diários!
    Passo os dias a "namorar" o look das fashion bloggers francesas e inglesas, ainda vou copiando ideias aqui e ali, mas a verdade é que não tenho coragem para usar metade das coisas que elas no dia à dia (supostamente) vestem.

    E tens toda a razão, os portugueses são muito fechados no que diz respeito à moda e de certa forma são muito puritanos. Vivi metade da minha vida fora e senti que quando voltei à 6 anos para Portugal tive de ir mudando aos poucos de estilo porque metade da roupa que tinha, que noutro sitios era normal, aqui era mal vista e a verdade é que os olhares constantes e comentários começaram a incomodar-me.

    Enfim, esperemos que isto aos poucos vá mudando...
    E sim, eu também sonho com umas belas meias até acima do joelho.

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  3. Isabel, ri-me às lágrimas com o teu comentário da versão bovina do Elton John: foi das tuas melhores! que L-O-L!
    Martinha, bem-vinda! E obg!!

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  4. Olá, vim aqui parar através do Beauty Routine. Gostei do texto e achei-o muito pertinente. Eu acho que o nosso estilo varia imenso consoante o ambiente e pessoas que nos rodeiam. E gosto bem mais do meu quando estou em ambientes em que me sinto mais livre. A mim acontece-me constranger-me sobretudo com vestidos e roupa curta, justa ou mais insinuante. Em Portugal é um bocadinho impossível para mim porque há demasiados olhares e há imensos homens a olhar para nós enquanto objectos. Isto pode ser a maior alarvidade mas para mim usar uma saia curtíssima aqui é totalmente diferente de a usar em França por exemplo. Estamos muito melhores que há uns anos atrás mas ainda não sinto que haja muita naturalidade relativamente ao corpo, de todo. Quer-se dizer, a que existe acaba por ser aquela onda da putita-casa-dos-segredos, o que me faz querer cobrir-me de imediato da cabeça aos pés.

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