Monday 1 March 2010

A Baía da Vergonha


Sempre vivi com o conflito interno de ser omnívora e adorar animais.
Nada mais amoroso que um coelhinho dentudo e branco a roer uma cenoura. Mas adoro um bom lapin à la moutarde. O porco é o meu animal de quinta preferido: gordinho, cómico, e por vezes lindo e cor-de-rosa como o Babe. Mas salivo só de pensar num belo presunto pata negra. Quando vejo carneirinhos, com aquela lã quente e fofinha, só me apetece abraça-los. Mas como pelo menos uma vez por semana costeletas de borrego.
Por um lado, acho que não era capaz de ser vegetariana. Abdicar da carne seria um sacrifico imenso mas deixar de comer peixe, então, é absolutamente impensável.
Mas, por outro lado, fico arrepiada só de pensar na crueldade e no horror que são os matadouros, os aviários e todos os processos tortuosos a que os animáveis são sujeitos para acabarem como um belo bife da vazia no meu prato. Solução: cúmulo do cinismo - não penso nisso. Convenço-me que é a cadeia alimentar, que é assim que tem de ser, que sou anémica e posso morrer se deixar de comer carne.
Mas, por vezes, somos confrontados com a verdade nua e crua.

Ontem fui ver o The Cove, um documentário feito em 2007 que denuncia a chacina de golfinhos que se repete a cada Setembro, na época migratória dos golfinhos a uma enseada do Parque Nacional de Taiji, no Japão.
Vencedor do Festival de Sundance o ano passado e nomeado para o Óscar de melhor documentário, o filme está sobretudo conseguido porque evita o (muito fácil) caminho do sensacionalismo mas não chega a ser secante à la Wildlife da BBC. O realizador Louie Psihoyos, que foi fotógrafo da National Geographic durante 18 anos, conciliou a sua paixão pelo tema a um apurado sentido de cinema.

O realizador Louie Psihoyos


O espectador está numa adrenalina permanente, a torcer pelos heróis – os activistas que protagonizam a história – e a chocar-se com a atitude ignóbil dos maus – os japoneses. É, tal como o próprio Psihoyos diz no filme, uma espécie de cruzamento entre o Ocean’s Eleven (cute play on words, by the way) e o Free Willy.
Liderado por Richard O’Barry – o instrutor de golfinhos que treinou o Flipper da famosa série dos anos 60 – um grupo de activistas, que inclui desde membros do Oceanic Preservation Society a peritos de efeitos especiais de cinema e mergulhadores de elite, embarca numa missão secreta para penetrar na enseada escondida no Japão, colocar microfones subaquáticos e câmaras ocultas, e trazer à luz do dia a negra realidade.

Richard O'Barry

Cerca de 23.000 golfinhos são mortos todos os anos em Taiji, a maior fornecedora mundial de golfinhos, em prol da crescente indústria de entretenimento como a Sea World e outros parques marinhos que exploram turistas ignorantes e inconscientes, que nem se perguntam como é que as baleias e golfinhos foram lá parar.


E este é apenas um dos muitos segredos que o documentário expõe: são reveladas ainda as corrupções em catadupa (o Japão compra votos na International Whaling Commission a países endividados que nem sequer têm cetáceos) e o facto da carne de golfinho – altamente tóxica pelo excesso de mercúrio – ser vendida disfarçadamente (não volto a comer sushi tão depressa, garanto-vos).


O que mais comove no The Cove não é tanto o óbvio, ou seja as imagens aterradoras de golfinhos bebés ensanguentados presos nas redes a tentarem fugir das linchadas dos pescadores, mas sobretudo o empenho, a dedicação, a paixão das pessoas que protagonizam o documentário. É impossível ficar indiferente à causa.


No fim do documentário, aparece a mensagem “How You Can Help!” com a indicação de uma série de links que aqui vos deixo. Eu já fiz a minha parte.
E vocês?

http://www.takepart.com/thecove

http://www.savejapandolphins.org/

http://www.opsociety.org/about-ops.htm

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