Tenho uma relação amor/ódio com a música brasileira.
Em geral, odeio. Prefiro arrancar as pestanas a ouvir Canta Bahia ou ver alguém dançar samba: o que é aquilo? Parece que estão a tentar apagar um tapete a arder ou têm formigueiro no pé. Sinistro.
Mas nós, portugueses, sempre fomos muito permeáveis a música brasileira.
Ultimamente, há a moda do choro, impulsionado pelas 3ª-f. à noite no Lusitano Clube e agora no Miradouro. Há uns tempos era impossível ligar o rádio sem ter de levar com o dueto da Vanessa da Mata com o Ben Harper. Há uns verões foi o furor do baile funk: até na Feiras Novas de Ponte de Lima dancei mais Bola de Fogo do que o vira! Houve a fase do rock das Mamonas Assassinas e do rap do Gabriel o Pensador e da Fernanda Abreu. Há uns bons anos atrás quem não fosse dono do "Feijão com Arroz" da Daniela Mercury ou não soubesse de cor o "Vermelho" da Fafá de Belém era ostracizado que nem um leproso.
E houve ainda a idade de ouro dos cantores românticos, com os duos Leonardo e Leandro (ou era Leandro e Leonardo?) e Sandy e Júnior (pequena nota: serei a única a achar ligeiramente incestuoso um duo romântico ser composto por irmão?), sem esquecer os maravilhosos Só Pra Contrariar (melhor nome de banda de sempre, logo a seguir ao Coco, Ranheta e Facada, que, durante anos, achei que se chamava Cóco, Punheta e Facada). O hit dos SPC (como eram conhecidos) foi “Depois do Prazer” composto por letras tão maravilhosas como “o amor só se mede depois do prazer” (hein?!), “quando o desejo vem é teu nome que eu chamo, posso até gostar de alguém mas é você que eu amo” e “estou fazendo amor com outra pessoa, mas meu coração vai ser sempre teu”. Fogo. Brutal. Melhor letra de sempre: não só insultas a tua ex, porque já estás na cama com outra, mas ofendes também a outra porque estás “fazendo amor” mas a pensar na ex. Isto já entra naquela zona cinzenta do é tão mau, tão mau, tão mau que chega a ser bom.
E houve ainda a idade de ouro dos cantores românticos, com os duos Leonardo e Leandro (ou era Leandro e Leonardo?) e Sandy e Júnior (pequena nota: serei a única a achar ligeiramente incestuoso um duo romântico ser composto por irmão?), sem esquecer os maravilhosos Só Pra Contrariar (melhor nome de banda de sempre, logo a seguir ao Coco, Ranheta e Facada, que, durante anos, achei que se chamava Cóco, Punheta e Facada). O hit dos SPC (como eram conhecidos) foi “Depois do Prazer” composto por letras tão maravilhosas como “o amor só se mede depois do prazer” (hein?!), “quando o desejo vem é teu nome que eu chamo, posso até gostar de alguém mas é você que eu amo” e “estou fazendo amor com outra pessoa, mas meu coração vai ser sempre teu”. Fogo. Brutal. Melhor letra de sempre: não só insultas a tua ex, porque já estás na cama com outra, mas ofendes também a outra porque estás “fazendo amor” mas a pensar na ex. Isto já entra naquela zona cinzenta do é tão mau, tão mau, tão mau que chega a ser bom.
Mas reconheço que, evidentemente, é redutor resumir a música brasileira aos Irans Costas ou Netinhos desta vida.
Antes de mais, tenho de admitir a minha ignorância e total desconhecimento do panorama actual da música brasileira. Haverá, seguramente, muito talento que me passa ao lado.
Vêm-me à cabeça nomes como Marcelo D2, Cibelle e Seu Jorge que, ainda que não adore, reconheço-lhes o mérito. Tento pensar nos CDs de música brasileira “moderna” que tenho e não há muitos, de facto. Acho que o último disco brasileiro que comprei foi o dos Little Joy (nem sei se contam como brasileiros mas contam com metade dos Los Hermanos, por isso…) e antes desse foi o já bem velhinho da Fernanda Porto que ouvi até à exaustão. Ah, tb tenho o über comercial dos Tribalistas que me foi oferecido mas que ainda ouvi bastante, admito.
Vêm-me à cabeça nomes como Marcelo D2, Cibelle e Seu Jorge que, ainda que não adore, reconheço-lhes o mérito. Tento pensar nos CDs de música brasileira “moderna” que tenho e não há muitos, de facto. Acho que o último disco brasileiro que comprei foi o dos Little Joy (nem sei se contam como brasileiros mas contam com metade dos Los Hermanos, por isso…) e antes desse foi o já bem velhinho da Fernanda Porto que ouvi até à exaustão. Ah, tb tenho o über comercial dos Tribalistas que me foi oferecido mas que ainda ouvi bastante, admito.
Ainda assim, a minha vertente “amor” na relação com a música brasileira passa essencialmente (se não for mesmo exclusivamente) pelos vozes dos vinis gastos do meu Pai que pertencem a nomes da década de ‘70 tão sonantes e respeitáveis como Tom Jobim, Vinícuis, Elis Regina (das minhas vozes predilectas), Caetano e, claro, Chico Buarque.
Sou apaixonada pelo Francisco Buarque de Hollanda, letrista de um talento incomensurável e dono dos olhos mais lindos e da voz mais doce do mundo que tantas vezes me embalou na minha infância. Enquanto que a minha Mãe tocava em loop o revolucionário e maravilhoso “Tanto Mar” sobre o 25 de Abril, o meu Pai preferia uma gravação de um concerto que o Caetano e o Chico deram em conjunto em Salvador da Bahia, em 1972, e que tem pérolas como “Bom Conselho” (letra fenomenal!), “Os Argonautas”, sobre os descobridores portugueses, numa espécie interpretação brasileira do tão nosso fado e, a minha eleita, o “Partido Alto”. O nome da canção refere-se ao estilo musical (partido alto é um tipo de samba dos anos ‘30) e nada tem a ver com a letra que é a verdadeira pièce de resistance.
Sou apaixonada pelo Francisco Buarque de Hollanda, letrista de um talento incomensurável e dono dos olhos mais lindos e da voz mais doce do mundo que tantas vezes me embalou na minha infância. Enquanto que a minha Mãe tocava em loop o revolucionário e maravilhoso “Tanto Mar” sobre o 25 de Abril, o meu Pai preferia uma gravação de um concerto que o Caetano e o Chico deram em conjunto em Salvador da Bahia, em 1972, e que tem pérolas como “Bom Conselho” (letra fenomenal!), “Os Argonautas”, sobre os descobridores portugueses, numa espécie interpretação brasileira do tão nosso fado e, a minha eleita, o “Partido Alto”. O nome da canção refere-se ao estilo musical (partido alto é um tipo de samba dos anos ‘30) e nada tem a ver com a letra que é a verdadeira pièce de resistance.
Para ouvir, rir, dançar, cantar e encantar, deixo-vos o Brasil em música. Bom fim-de-semana!
Para rir:
Para ouvir:
Para dançar:
Para cantar:
Para encantar:
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