Já há um mês quase que não punha cá os pés.
Tenho andado muito faltosa e ausente mas as 24 horas do dia não dão para tudo e, infelizmente, o B’necas tem sido (injustamente) relegado para os últimos lugares na lista de prioridades – que muitas vezes não sou eu que defino, mas antes o meu chefe, os clientes e tantos outros factores que não controlo.
Mas também há uma boa razão para o silêncio das últimas semanas: fui passar uns dias a Londres, matar saudades da família e de uma das minhas cidades europeias predilectas.
Pretensiosismo à parte, posso dizer que Londres é a cidade que melhor conheço a seguir a Lisboa. Conheço melhor do que qualquer outra cidade portuguesa, aliás. Tenho lá a minha irmã há mais de 10 anos, casada com um inglês very british e vou à capital inglesa como quem vai à terra. Chego ao luxo de ter caprichos como só comprar roupa interior do M&S, só ter champôs da John Frieda, só comer os cereais da Dorset que vendem no Sainsbury’s…
Mas tenho uma relação de amor/ódio com Londres: cada viagem é toda uma sucessão de etapas, como as sete fases do luto (choque, negação, negociação, culpa, raiva, depressão e aceitação).
1. Primeiro, a excitação.
Começo a planear a minha to do list londrina com a organização e antecedência dignas da festa de casamento. É a visita obrigatória ao Ubran Path e à Time Out London para agendar todos os concertos, os cem mil contactos via FB para marcar logo jantares e saídas, fazer as encomendas na Amazon e dos sites que só fretam no UK para casa da minha irmã … E depois, countdown: conto os minutos até ir e nem a viagem na Easy Jet me custa.
Começo a planear a minha to do list londrina com a organização e antecedência dignas da festa de casamento. É a visita obrigatória ao Ubran Path e à Time Out London para agendar todos os concertos, os cem mil contactos via FB para marcar logo jantares e saídas, fazer as encomendas na Amazon e dos sites que só fretam no UK para casa da minha irmã … E depois, countdown: conto os minutos até ir e nem a viagem na Easy Jet me custa.
2. O deslumbramento.
Chego lá com o mesmo brilho nos olhos do menino do interior que vê o mar pela primeira vez. Tudo me fascina, tudo parece novidade, tudo parece melhor. Afirmo cem vezes ao dia “juro-te, é desta que me mudo, mando Lx à m*rda e venho pra cá de vez”. E rendo-me a tudo aquilo que Londres tem de maravilhoso.
Chego lá com o mesmo brilho nos olhos do menino do interior que vê o mar pela primeira vez. Tudo me fascina, tudo parece novidade, tudo parece melhor. Afirmo cem vezes ao dia “juro-te, é desta que me mudo, mando Lx à m*rda e venho pra cá de vez”. E rendo-me a tudo aquilo que Londres tem de maravilhoso.
Os museus gratuitos. Não há vez que não volte à National Portrait Gallery & uma ala muito específica do V&A, dedicada à evolução da moda, desde a roupa interior da Rainha Vitória a uma t-shirt da Veronique Branquinho.
As exposições (ainda que pagas e muito bem pagas, mesmo) costumam ser sensacionais. Este mês, excepcionalmente, foi uma desilusão: a exposição Pop Life Art In A Material World na Tate Modern dedicada à Pop Art (que logo à partida não é um movimento artístico que me apele especialmente) era, vá, lixo. Havia uma sala do Jeff Koons que não era mais do que pornografia hardcore, imagens full on da Cicolina a fazer um br*che ao Jeff Koons, um zoom ampliadíssimo de uma penetração e mais o que o valha. Whatever. Lixo. Pornografia é pornografia. Nada contra, antes pelo contrário. Mas não me venham com m*rdas, aquilo não é arte. A única coisa que gostei, e que vai de encontro com esta minha ligeira obsessão pelo Japão, foi a sala do Takashi Murakami. Mushi mushi!
Adoro a almoçar e jantar fora em Londres. Findo está o cliché de que não se come bem em Inglaterra. Para já, a qualidade dos produtos é incomparável. Adeptos fervorosos do organic, é indiferente ir ao supermercado ou à praça: a qualidade é tão boa num sítio como no outro. E há de tudo: vi coisas do Gourmet do Corte Inglês no Tesco’s mais manhoso de uma passagem de metro… E o high tea inglês faz as minhas delícias: as sanduíches de triângulo, o earl grey com leite, os scones com clotted cream, os savoury muffins... Babo-me só de pensar no lanche da Fortnum & Mason que custa mais que um jantar no Eleven mas em que se come dez vezes melhor.
As livrarias de Londres. Adoro mais do que os livros que vendem, as próprias livrarias são de sonho. Desde a emblemática Daunt Books à über comercial Waterstones de 6 pisos em Piccadilly, sem esquecer, claro, as livrarias de segunda mão e especializadas da Charing Cross e Soho. E, com a grande diferença das livrarias (as maiores, pelo menos) de Lisboa, os funcionários sabem de livros, de literatura, têm o gosto da leitura e sabem fazer recomendações e indicar o que queremos e precisamos.
Adoro o caos de Londres porque é um caos organizado. Não há metro? Tudo bem, oferecemos-lhe imediatamente trinta alternativas, reembolso imediato, tudo é previsto, antecipado, noticiado… Adoro o caos do contraste das meninas com quinze anos que se vestem na Sloane Street e se passeiam por Belgravia com os dandies que demoram 2h a arranjar-se e ter aquele look “just rolled out of bed” e vivem nas zonas calculadamente excêntricas de Camden, Notting Hill e Old Town.
Adoro a cultura dos pubs: para além de adorar a cerveja deles (será que é só por ser lá? Se a bebesse me Lx saber-me-ia igual ou pior a uma mini da super bock?), adoro o facto de eles saírem cedo, aproveita-se o dia todo!
3. Depois, é a fase da negação.
Ignorar que cada café me custa £5, o OysterCard desconta-me mais dinheiro que a Segurança Social a cada viagem de metro, as saídas à noite são brutais mas caga lá em pagar £50 de táxi para voltar para casa… Fingir que sou londrina, que ganho em £, que posso andar sem mapa (e, orgulhosamente, gabo-me que posso e adoro quando me pedem direcções e, mais ainda, quando as sei dar)…
4. A seguir, é a fase da “cair na real”.
Ou seja, ver o meu extracto de conta e do meu cartão de crédito. Mini taquicardia cada vez que acedo ao meu netbanking. Odeio os preços de Londres. Chega de chulice. E, já agora, adiram ao € uma vez por todas!
5. Depois, a raiva.
Apercebo-me que há, entre tantas, uma óptima razão para eu não viver em Londres: é porque é uma cidade insuportável de se viver. Já nem falo do custo de vida. É uma cidade que me esgota, é sempre hora de ponta, o metro está à pinha quer às 11h, às 14h, às 23h… Tudo fica longe, não há sítio em que não haja multidões…
E como turista tb chega a certa altura em que deixa de ser tudo tão espectacular, afinal.
Estou farta das lojas da high street. Vasculhei a Top Shop de uma ponta a outra e não encontrei nada, mas nada que me apetecesse ter. A FCUK tem a mesma colecção há anos, incluindo peças que comprei cá no Corte Inglês em saldos e que lá vendem a preço inteiro (a lata!). A American Apparel tem a pior relação qualidade/preço… A Urban Outfitters deve mandar tudo de jeito para os EUA porque entrar na de Londres ou na Funny das Amoreiras vai dar ao mesmo: eu raramente tenho oportunidade para vestir um macacão transparente com o buraco no peito que custa £150 a não ser que seja para me mascarar de prostituta (e com ordenado de prostituta)… e ainda aí… É toda uma escala: ele há fashion, depois excêntrico e depois palhaçada. E no fim finzinho dessa escala está a Urban Outfitters.
E, por fim, é cliché, eu sei, mas é verdade: o tempo. Aquele tempo mata-me. Está SEMPRE a chover, pelamordeus! É noite às 4 da tarde, está sempre frio, depois um bafo insuportável no metro e nas lojas. É duro para uma alfacinha que não passa um f-d-s, verão ou inverno, sem ir à praia. E praia digna desse nome: falésias ou calhaus empilhadas à beira da mancha o do mar da Irlanda não contam, ‘tá?
6. A última etapa, como não podia deixar de ser, é a aceitação.
A verdade é que é precisamente por esta conjugação de factores que amo Londres mas sou incapaz de viver lá. É como estar apaixonada por um homem casado ou ser casada e apaixonar-se por outro homem, imagino: é um sofrimento permanente do “e se?” mas depois o risco daquilo correr mal é tão grande que preferimos viver na fantasia do “e se?”.
Lisboa é o meu marido e Londres o meu amante a quem digo “amo-te mas nunca vou deixar Lisboa”.
Bem-vinda de volta, b'neca! Já tinha saudades de ler o que escreves e, invariavelmente, reconhecer-me um bocadinho nos teus posts.
ReplyDeleteA mim parece-me que tens o melhor dos dois mundos: lanches na Fortnum and Mason, concertos e jantares brutais, St. James Park num dia de Primavera, National Portrait até cair, um sobrinho liiiindo de morrer e depois o regresso ao sol e à luz de Lisboa.
Cheira-me que conseguiste o jackpot....
P.S. E desqueira que o R.U. adira ao Euro. É que já não há bolsa que aguente!
Grande frase. "Amo-te Londres, mas nunca vou deixar Lisboa".
ReplyDeleteDá que pensar, dá que pensar...