Friday, 30 October 2009

Diz que deu, diz que Deus, diz que Deus dará...


Tenho uma relação amor/ódio com a música brasileira.

Em geral, odeio. Prefiro arrancar as pestanas a ouvir Canta Bahia ou ver alguém dançar samba: o que é aquilo? Parece que estão a tentar apagar um tapete a arder ou têm formigueiro no pé. Sinistro.

Mas nós, portugueses, sempre fomos muito permeáveis a música brasileira.

Ultimamente, há a moda do choro, impulsionado pelas 3ª-f. à noite no Lusitano Clube e agora no Miradouro. Há uns tempos era impossível ligar o rádio sem ter de levar com o dueto da Vanessa da Mata com o Ben Harper. Há uns verões foi o furor do baile funk: até na Feiras Novas de Ponte de Lima dancei mais Bola de Fogo do que o vira! Houve a fase do rock das Mamonas Assassinas e do rap do Gabriel o Pensador e da Fernanda Abreu. Há uns bons anos atrás quem não fosse dono do "Feijão com Arroz" da Daniela Mercury ou não soubesse de cor o "Vermelho" da Fafá de Belém era ostracizado que nem um leproso.
E houve ainda a idade de ouro dos cantores românticos, com os duos Leonardo e Leandro (ou era Leandro e Leonardo?) e Sandy e Júnior (pequena nota: serei a única a achar ligeiramente incestuoso um duo romântico ser composto por irmão?), sem esquecer os maravilhosos Só Pra Contrariar (melhor nome de banda de sempre, logo a seguir ao Coco, Ranheta e Facada, que, durante anos, achei que se chamava Cóco, Punheta e Facada). O hit dos SPC (como eram conhecidos) foi “Depois do Prazer” composto por letras tão maravilhosas como “o amor só se mede depois do prazer” (hein?!), “quando o desejo vem é teu nome que eu chamo, posso até gostar de alguém mas é você que eu amo” e “estou fazendo amor com outra pessoa, mas meu coração vai ser sempre teu”. Fogo. Brutal. Melhor letra de sempre: não só insultas a tua ex, porque já estás na cama com outra, mas ofendes também a outra porque estás “fazendo amor” mas a pensar na ex. Isto já entra naquela zona cinzenta do é tão mau, tão mau, tão mau que chega a ser bom.



Mas reconheço que, evidentemente, é redutor resumir a música brasileira aos Irans Costas ou Netinhos desta vida.



Antes de mais, tenho de admitir a minha ignorância e total desconhecimento do panorama actual da música brasileira. Haverá, seguramente, muito talento que me passa ao lado.
Vêm-me à cabeça nomes como Marcelo D2, Cibelle e Seu Jorge que, ainda que não adore, reconheço-lhes o mérito. Tento pensar nos CDs de música brasileira “moderna” que tenho e não há muitos, de facto. Acho que o último disco brasileiro que comprei foi o dos Little Joy (nem sei se contam como brasileiros mas contam com metade dos Los Hermanos, por isso…) e antes desse foi o já bem velhinho da Fernanda Porto que ouvi até à exaustão. Ah, tb tenho o über comercial dos Tribalistas que me foi oferecido mas que ainda ouvi bastante, admito.


Ainda assim, a minha vertente “amor” na relação com a música brasileira passa essencialmente (se não for mesmo exclusivamente) pelos vozes dos vinis gastos do meu Pai que pertencem a nomes da década de ‘70 tão sonantes e respeitáveis como Tom Jobim, Vinícuis, Elis Regina (das minhas vozes predilectas), Caetano e, claro, Chico Buarque.
Sou apaixonada pelo Francisco Buarque de Hollanda, letrista de um talento incomensurável e dono dos olhos mais lindos e da voz mais doce do mundo que tantas vezes me embalou na minha infância. Enquanto que a minha Mãe tocava em loop o revolucionário e maravilhoso “Tanto Mar” sobre o 25 de Abril, o meu Pai preferia uma gravação de um concerto que o Caetano e o Chico deram em conjunto em Salvador da Bahia, em 1972, e que tem pérolas como “Bom Conselho” (letra fenomenal!), “Os Argonautas”, sobre os descobridores portugueses, numa espécie interpretação brasileira do tão nosso fado e, a minha eleita, o “Partido Alto”. O nome da canção refere-se ao estilo musical (partido alto é um tipo de samba dos anos ‘30) e nada tem a ver com a letra que é a verdadeira pièce de resistance.


Para ouvir, rir, dançar, cantar e encantar, deixo-vos o Brasil em música. Bom fim-de-semana!



Para rir:



Para ouvir:



Para dançar:



Para cantar:



Para encantar:

Thursday, 29 October 2009

Current Fashion Icon

Christine Centenera, a editora da Harpers Bazaar australiana.








Wednesday, 28 October 2009

When God closes a door, somewhere He opens a window


O feedback que tive dos meus amigos relativamente ao post de ontem foi comovente. Antes de mais, porque não tinha noção que o B’necas era lido por tantos e, por isso, muito vos agradeço a paciência, fidelidade e amizade. E, sobretudo, porque é graças a Amigos como vocês que o mundo caminha, pula e avança, sim senhor, com a fé que António Gedeão escreve na Pedra Filosofal.


Apesar de gostar de pensar que sou uma pessoa optimista, positiva e up lifiting, que transmito boas ondas e sou boa companhia, ando numa fase menos optimista porque, digamo-lo sem cerimónia, a vida é f*dida. É lixado crescer, o dia-a-dia é uma batalha constante sem time out, não temos a meia-hora de intervalo para nos massajarem as pernas e nos darem o pep talk antes de enfrentarmos mais 45 mins de jogo a sofrer golos e fintas. Há alturas em que é mais difícil ver o lado bom da vida e centramo-nos nas dificuldades.


Não me quero queixar, são apenas constatações. Aliás, não me posso queixar, não tenho esse direito. E não o faço em regra, tirando à minha Mãe em busca de mimos que não mos dá e consegue sempre dizer “Mas como é que tu te podes queixar quando [inserir história absolutamente trágica que envolva, pelo menos, um doente terminal, uma criança que não foi amada e um pai de família desempregado]?!”. Pois, claro, perante esse cenário a minha vida é mel.


Em bom rigor, a minha Mãe (como todas as Mães) tem toda a razão. Tenho um óptimo emprego. Odeio-o, é certo: trabalho 12 horas por dia e odeio isto mais do que iscas de fígado ou o álbum dos Amália Hoje. Mas nem por isso deixa de ser um óptimo emprego. Tenho saúde, toda a minha família e (quase) todas pessoas de quem gosto e com quem me preocupo têm saúde. Posso não ter o dinheiro que quero mas tenho o dinheiro que preciso. Tenho uma família que adoro e, em especial, um sobrinho maravilhoso que é a prova viva de que Deus existe. E, ainda que com uma vida amorosa digna de uma tragédia grega e um relógio biológico que já dá horas, não perdi a esperança de um dia amar e ser amada (pela mesma pessoa de preferência, já agora!).


Por isso, depois do negativismo de ontem, hoje retomo a curva ascendente. O título deste post é uma das minhas citações preferidas do filme (ou, vá, pelo menos um dos filmes) da minha vida, a Música no Coração (é cliché, eu sei, mas nem por isso deixa de ser verdade, deal with it). Têm-se fechado muitas portas mas vou descobrir a janela que está praí aberta algures… não vá ela fazer corrente de ar.


E para acabar, mais um cliché: outro dos filmes da minha vida, Life of Brian (houve umas férias de verão em que eu e a minha irmã só tínhamos este VHS – sim, meninos e meninas, no meu tempo ainda não havia DVDs e o último grito da moda era o BETA - e víamo-lo praticamente todos os dias. Sei todas as falas de cor: a melhor “I’m Jesus Christ and so is my wife!”).

Deixo-vos com um verdadeiro happy ending. Não, não esse, seus tarados, este:




Some things in life are bad,
They can really make you mad,
Other things just make you swear and curse,
When you're chewing life's gristle,
Don't grumble,
Give a whistle
And this'll help things turn out for the best.
And...

Always look on the bright side of life

If life seems jolly rotten,
There's something you've forgotten,
And that's to laugh and smile and dance and sing.
When you're feeling in the dumps,
Don't be silly chumps.
Just purse your lips and whistle.
That's the thing.
And...

Always look on the bright side of life.

For life is quite absurd
And death's the final word.
You must always face the curtain with a bow.
Forget about your sin.
Give the audience a grin.
Enjoy it. It's your last chance, anyhow.
So,...

Always look on the bright side of death,
Just before you draw your terminal breath

Life's a piece of shit,
When you look at it.
Life's a laugh and death's a joke it's true.
You'll see it's all a show.
Keep 'em laughing as you go.
Just remember that the last laugh is on you.
And...

Always look on the bright side of life.
Always look on the right side of life.

Tuesday, 27 October 2009

Liar, Liar, Pants on Fire

Tenho um sem fim de pet peeves: desde colegas de trabalho que GRITAM POR EMAIL QUANDO ESCREVEM COM CAPS, condutores que não fazem pisca ou, pior ainda, deixam-no por quilómetros sem fim, pessoas que falam perto demais, a Ana Gomes… Enfim, há todo um rol.
Mas se há coisa que não suporto, não tolero nem à lei da bala, é que façam de mim estúpida: não há pior que a desonestidade e a mentir, por mais “inocente” que seja.
A sério, não me mintam. Tudo menos isso. Por muito que seja com muito boa intenção – que, no bom rigor, nunca o é e é apenas a solução egoísta e cobarde de quem não tem cojones de nos confrontar –, não o façam. Nunca ouviram a expressão “mais depressa se apanha uma mentiroso que um coxo”? Nunca tentei apanhar um coxo mas estou certa que é coisa para se resolver em menos de 1 minuto, por isso vejam lá as hipóteses do mitómano…
Perdoaria, atentas as circunstâncias, claro está, um namorado que me traísse e me contasse mas (embora nunca se deva dizer nunca) acho que não era capaz de perdoar um namorado que me traísse e não contasse (e eu viesse a descobrir por outra via, obviamente: what you don’t know can’t hurt you, right?). O erro está na omissão, não na traição. E, não me lixem, a omissão é a forma mais cobarde da mentira.
Há a mentira-desculpa, a pessoa que chega atrasada e se justifica: “ah, é que estava imenso trânsito”. Jura, a sério? E como é que achas que cheguei aqui? Vim a voar… Há o “são só 5 mins!” que na verdade demora uma hora… Há a amiga que não nos quer ofender: “Não, a sério, estás mesmo gira, fica-te bem!” ou o consolo: “não te preocupes, a nova namorada dele é sinistra. Nem percebo como é que é modelo e a confundem sempre com a Eva Mendes…”.
E há o pior, o imperdoável. Induzirem-nos em erro. É o “claro que está tudo bem” e afinal não está. É o “don’t call us, we’ll call you”: no you won’t! É o “já te digo qualquer coisa” e o “” ganha toda uma nova conotação de “nunca mais”. É o “acho que as coisas estão a correr lindamente cá em casa, não sejas exagerada” (sendo certo que a palavra exacta foi “histérica” mas acho tão ofensivo que prefiro eu própria ceder a uma aldrabice neste contexto) e uma semana depois “afinal vou sair, já tenho outro sítio, aguenta aí a renda sozinha”.
Fui educada a acreditar que somos intrinsecamente bons, que há que depositar fé nas pessoas, acreditar no melhor e não apenas temer o pior. Mas, ao longo dos anos, tenho vindo, desilusão após desilusão, em deixar de acreditar no quer e em quem quer que seja. Primeiro, por defeito profissional: sou advogada e é minha obrigação prever sempre o pior cenário (e proporcionar as soluções adequadas e preventivas). Trabalho com base na desconfiança: o contrato, a garantia, os colaterais, as reps & warranties..., todos os instrumentos jurídicos são construídos na base do “eu e tu vamos fazer negócio mas eu não confio em ti nem tu em mim”. Normalíssimo. Segundo, porque as pessoas em que eu depositei tanta fé desiludiram-me forte e feio.
Esta manhã tive uma desilusão que me levou a desabafar neste deprimente post que vos deixo. Uma pessoa de quem eu dizia, à boca cheia, “confio cegamente” e que me traiu pior que Judas a Cristo, Regan o Rei Lear ou os membros do senado o Júlio César.
E, como dizia Nietzsche, desilude-me mais do que a traição em si o facto de eu nunca mais poder confiar naquela pessoa.
O que me irrita de forma igual em todas as mentiras – de menor ou maior importância – é a pessoa que mente achar-se melhor do que eu porque (i) acha que não vou saber que está a mentir e isto é o equivalente a chamarem-me de estúpida; e que (ii) a vida delas é mais importante que a minha: que se lixe a minha vida, os meus princípios e confiança. O eu conta é o bem estar do outro. Com egoísmo e egocentrismo é que o mundo pula e avança, já dizia o António Gedeão, não é? Não, não é.
Se levarem apenas uma coisa deste blogue, seja isto. Caguem nas músicas que vos deixo, nos fashion trends que vos aconselho, nas aventuras que convosco partilho. Esqueçam tudo isso e lembrem-se apenas disto: não mintam. A sério, não o façam.
Lembrem-se: the naked truth is always better than the best dressed lie.

Monday, 26 October 2009

Porque só faltam 2 meses…

… já ando a pensar no que pedir ao Menino Jesus. Fui uma linda menina este ano, tão bem comportada, mereço a devida compensação. Por isso, a inaugurar a lista All I Want For Christmas, nada mais nada mesmo do que este modelito da Luminox apresentado no festival de Inazuma em Tóquio: um twist nipónico ao clássico suíço Luminox. Super heart.

Friday, 23 October 2009

Bom fim-de-semana!


Apesar de, em regra, preferir vozes masculinas (as minhas bandas predilectas são quase todas lideradas por homens e a minha preferência por cantautores homens roça o fetiche), ultimamente tenho dado por mim a ouvir quase exclusivamente vozes femininas. Não sei se se deve a esta nova onda de cantoras irreverentes britânicas a que sucumbi impiedosamente mas a verdade é que são elas que lideram a minha playlist dos últimos meses.
Deixo-vos a banda sonora das minhas últimas semanas:

Ida Maria




Jenny Wilson




Little Boots (aqui num cover pelos Basement Jaxx)




Annie (aqui um cover pelo Ohbijou)




Bat For Lashes




La Roux

Thursday, 22 October 2009

Want of the Day



À falta das botas OTK (porque todas as que gosto custam um ordenado bruto inteirinho e há gastos que até eu considero estúpidos), estou absolutamente rendida à moda das meias de lã OTK. Adoro. Acho feminino e flirty sem ser ordinário, sobretudo quando combinado com vestidos curtos e simples e mary janes, sabrinas ou outros sapatos menineiros.
A Miu Miu tem o par de meias mais lindo, combinado com o par de mary janes mais lindo. Sei que a Fashion Clinic & a Loja das Meias têm Miu Miu mas ainda não vi nem este mais lindo par de meias nem este mais lindo par de mary janes. É fazer figas para que tenham o bom senso de os encomendar. Pelo menos um par de cada. E, já agora, em 38, sff.

Wednesday, 21 October 2009

"By seeing London, I have seen as much of life as the world can show”, Samuel Johnson


Já há um mês quase que não punha cá os pés.
Tenho andado muito faltosa e ausente mas as 24 horas do dia não dão para tudo e, infelizmente, o B’necas tem sido (injustamente) relegado para os últimos lugares na lista de prioridades – que muitas vezes não sou eu que defino, mas antes o meu chefe, os clientes e tantos outros factores que não controlo.
Mas também há uma boa razão para o silêncio das últimas semanas: fui passar uns dias a Londres, matar saudades da família e de uma das minhas cidades europeias predilectas.
Pretensiosismo à parte, posso dizer que Londres é a cidade que melhor conheço a seguir a Lisboa. Conheço melhor do que qualquer outra cidade portuguesa, aliás. Tenho lá a minha irmã há mais de 10 anos, casada com um inglês very british e vou à capital inglesa como quem vai à terra. Chego ao luxo de ter caprichos como só comprar roupa interior do M&S, só ter champôs da John Frieda, só comer os cereais da Dorset que vendem no Sainsbury’s…
Mas tenho uma relação de amor/ódio com Londres: cada viagem é toda uma sucessão de etapas, como as sete fases do luto (choque, negação, negociação, culpa, raiva, depressão e aceitação).
1. Primeiro, a excitação.
Começo a planear a minha to do list londrina com a organização e antecedência dignas da festa de casamento. É a visita obrigatória ao Ubran Path e à Time Out London para agendar todos os concertos, os cem mil contactos via FB para marcar logo jantares e saídas, fazer as encomendas na Amazon e dos sites que só fretam no UK para casa da minha irmã … E depois, countdown: conto os minutos até ir e nem a viagem na Easy Jet me custa.
2. O deslumbramento.
Chego lá com o mesmo brilho nos olhos do menino do interior que vê o mar pela primeira vez. Tudo me fascina, tudo parece novidade, tudo parece melhor. Afirmo cem vezes ao dia “juro-te, é desta que me mudo, mando Lx à m*rda e venho pra cá de vez”. E rendo-me a tudo aquilo que Londres tem de maravilhoso.
Os museus gratuitos. Não há vez que não volte à National Portrait Gallery & uma ala muito específica do V&A, dedicada à evolução da moda, desde a roupa interior da Rainha Vitória a uma t-shirt da Veronique Branquinho.
As exposições (ainda que pagas e muito bem pagas, mesmo) costumam ser sensacionais. Este mês, excepcionalmente, foi uma desilusão: a exposição Pop Life Art In A Material World na Tate Modern dedicada à Pop Art (que logo à partida não é um movimento artístico que me apele especialmente) era, vá, lixo. Havia uma sala do Jeff Koons que não era mais do que pornografia hardcore, imagens full on da Cicolina a fazer um br*che ao Jeff Koons, um zoom ampliadíssimo de uma penetração e mais o que o valha. Whatever. Lixo. Pornografia é pornografia. Nada contra, antes pelo contrário. Mas não me venham com m*rdas, aquilo não é arte. A única coisa que gostei, e que vai de encontro com esta minha ligeira obsessão pelo Japão, foi a sala do Takashi Murakami. Mushi mushi!
Adoro a almoçar e jantar fora em Londres. Findo está o cliché de que não se come bem em Inglaterra. Para já, a qualidade dos produtos é incomparável. Adeptos fervorosos do organic, é indiferente ir ao supermercado ou à praça: a qualidade é tão boa num sítio como no outro. E há de tudo: vi coisas do Gourmet do Corte Inglês no Tesco’s mais manhoso de uma passagem de metro… E o high tea inglês faz as minhas delícias: as sanduíches de triângulo, o earl grey com leite, os scones com clotted cream, os savoury muffins... Babo-me só de pensar no lanche da Fortnum & Mason que custa mais que um jantar no Eleven mas em que se come dez vezes melhor.
As livrarias de Londres. Adoro mais do que os livros que vendem, as próprias livrarias são de sonho. Desde a emblemática Daunt Books à über comercial Waterstones de 6 pisos em Piccadilly, sem esquecer, claro, as livrarias de segunda mão e especializadas da Charing Cross e Soho. E, com a grande diferença das livrarias (as maiores, pelo menos) de Lisboa, os funcionários sabem de livros, de literatura, têm o gosto da leitura e sabem fazer recomendações e indicar o que queremos e precisamos.
Adoro o caos de Londres porque é um caos organizado. Não há metro? Tudo bem, oferecemos-lhe imediatamente trinta alternativas, reembolso imediato, tudo é previsto, antecipado, noticiado… Adoro o caos do contraste das meninas com quinze anos que se vestem na Sloane Street e se passeiam por Belgravia com os dandies que demoram 2h a arranjar-se e ter aquele look “just rolled out of bed” e vivem nas zonas calculadamente excêntricas de Camden, Notting Hill e Old Town.
Adoro a cultura dos pubs: para além de adorar a cerveja deles (será que é só por ser lá? Se a bebesse me Lx saber-me-ia igual ou pior a uma mini da super bock?), adoro o facto de eles saírem cedo, aproveita-se o dia todo!
3. Depois, é a fase da negação.
Ignorar que cada café me custa £5, o OysterCard desconta-me mais dinheiro que a Segurança Social a cada viagem de metro, as saídas à noite são brutais mas caga lá em pagar £50 de táxi para voltar para casa… Fingir que sou londrina, que ganho em £, que posso andar sem mapa (e, orgulhosamente, gabo-me que posso e adoro quando me pedem direcções e, mais ainda, quando as sei dar)…
4. A seguir, é a fase da “cair na real”.
Ou seja, ver o meu extracto de conta e do meu cartão de crédito. Mini taquicardia cada vez que acedo ao meu netbanking. Odeio os preços de Londres. Chega de chulice. E, já agora, adiram ao € uma vez por todas!
5. Depois, a raiva.
Apercebo-me que há, entre tantas, uma óptima razão para eu não viver em Londres: é porque é uma cidade insuportável de se viver. Já nem falo do custo de vida. É uma cidade que me esgota, é sempre hora de ponta, o metro está à pinha quer às 11h, às 14h, às 23h… Tudo fica longe, não há sítio em que não haja multidões…
E como turista tb chega a certa altura em que deixa de ser tudo tão espectacular, afinal.
Estou farta das lojas da high street. Vasculhei a Top Shop de uma ponta a outra e não encontrei nada, mas nada que me apetecesse ter. A FCUK tem a mesma colecção há anos, incluindo peças que comprei cá no Corte Inglês em saldos e que lá vendem a preço inteiro (a lata!). A American Apparel tem a pior relação qualidade/preço… A Urban Outfitters deve mandar tudo de jeito para os EUA porque entrar na de Londres ou na Funny das Amoreiras vai dar ao mesmo: eu raramente tenho oportunidade para vestir um macacão transparente com o buraco no peito que custa £150 a não ser que seja para me mascarar de prostituta (e com ordenado de prostituta)… e ainda aí… É toda uma escala: ele há fashion, depois excêntrico e depois palhaçada. E no fim finzinho dessa escala está a Urban Outfitters.
E, por fim, é cliché, eu sei, mas é verdade: o tempo. Aquele tempo mata-me. Está SEMPRE a chover, pelamordeus! É noite às 4 da tarde, está sempre frio, depois um bafo insuportável no metro e nas lojas. É duro para uma alfacinha que não passa um f-d-s, verão ou inverno, sem ir à praia. E praia digna desse nome: falésias ou calhaus empilhadas à beira da mancha o do mar da Irlanda não contam, ‘tá?
6. A última etapa, como não podia deixar de ser, é a aceitação.
A verdade é que é precisamente por esta conjugação de factores que amo Londres mas sou incapaz de viver lá. É como estar apaixonada por um homem casado ou ser casada e apaixonar-se por outro homem, imagino: é um sofrimento permanente do “e se?” mas depois o risco daquilo correr mal é tão grande que preferimos viver na fantasia do “e se?”.
Lisboa é o meu marido e Londres o meu amante a quem digo “amo-te mas nunca vou deixar Lisboa”.