Thursday 30 April 2009

“There are only two emotions in a plane: boredom and terror”, Orson Welles

Apesar de ser boa rapariga, amiga do seu amigo e ter um belíssimo carácter e feito – modéstia à parte – tenho um longuíssimo rol de pet peeves. À medida que penso mais nisso, dou por mim a embirrar com cada vez mais coisas. Embirro com pessoas que não dizem os “s” antes dos “r”. Embirro com elevadores que não têm espelho. Embirro com restaurantes que não têm multibanco. Embirro com roupas que têm etiquetas do tamanho do Guerra e Paz.
E embirro com pessoas que não se sabem comportar em aviões.
Peguem num comum cidadão. Chamemos-lhe Manuel.
Agora ponham o Manuel num autocarro. O Manuel tem um comportamento banal: senta-se calmamente, guarda junto a ele os respectivos pertences e só se levanta quando chega à sua paragem. Metam o Manuel num carro: ele senta-se, põe o cinto de segurança, não se levanta vez uma só vez durante a viagem e só tira o cinto de segurança quando o carro está estacionado e desligado. E se o Manuel andar de comboio, barco ou carroça, não terá uma conduta muito diferente.
Mas agora metam o Manuel num avião. Nem que o Manuel tenha voado 10.000 vezes, a excitação é igual à primeira vez em que andou de avião.
Começa logo no check-in. Nem que só vá 2 dias, o Manuel precisa de levar 18 malas, 17 das quais são bagagem de mão, cada uma com 40 quilos.
Passado o check-in, o Manuel fica louco com o Tax Free. Compra um volume de 10 maços mesmo que não fume, um Toblerone gigante e um kit de perfumes que tinha um desconto especial.
Depois, mesmo sabendo que os lugares de avião estão previamente marcados e determinados, o Manuel quer ser o primeiro a chegar à porta de embarque. Espera de pé em frente à porta ainda fechada porque o Manuel, que é um homem precavido, chegou com 1 hora de antecedência. E o Manuel adora formar fila e, mais ainda, ser o primeiro dessa fila, mesmo sabendo que, antes dele, ainda vão entrar no avião as pessoas com crianças, em cadeiras de rodas ou com bilhete de executiva.
Uma vez dentro do avião, sendo que vai ter de esperar pelo menos 30 minutos antes da descolagem porque foi dos primeiros a entrar, o Manuel senta-se, aperta logo o cinto e começa a ler a revista das vendas abordo, não vá o preço do Toblerone ser mais interessante que no Tax Free e ele assim leva mais dois.
Depois o Manuel ainda aproveita aqueles minutinhos antes da descolagem para falar ao telemóvel porque, sacrilégio!, vai ter de o desligar por uma quantidade de horas insuportáveis, tipo duas horas…
Mal o avião levanta voo, o Manuel, que nem cão de Pavlov, tem de ir à casa de banho. E como o Manuel gosta de ir à janela, tem de incomodar os dois outros passageiros da fila cada vez que precisa de esvaziar a bexiga da garrafa de litro e meio de Coca-cola que teve de beber à pressa antes de embarcar porque se esqueceu da restrição dos líquidos.
Uma vez de volta ao lugar, o Manuel volta a folhear a revista das vendas a borda, uma terceira vez, não lhe fosse escapar uma qualquer promoção.
Finalmente chega a hora da refeição. E o Manuel, como é um homem exigente, não quer só um copo com água. Quer uma Coca-cola (é que ele gosta mesmo de Coca-cola) mas tem de ser com gelo e limão. E também quer um copo de vinho, para acompanhar o Queru que vem no tabuleirinho da comida, e ainda um copo com água, não lhe vá dar a sede. Durante a refeição, o Manuel lembra-se que é a melhor altura para ir à casa de banho, uma vez que os passageiros estão todos entretidos a comer. Vai daí, incomoda as outros passageiros da fila, que têm de fazer malabarismos à Cirque du Soleil para o deixarem passar entre os tabuleiros cheios de comida, fragilmente pousados nas mesas mais pequenas e instáveis do mundo, e vai à casa de banho. Já no corredor, encontra-se preso entre os carrinhos da comida e os comissários de bordo e, para poder passar, o Manuel deita-se praticamente sobre um qualquer inocente passageiro sentado coxia e a respectiva refeição. Mas vai à casa de banho quando não há ninguém: esperto, o Manuel.
Depois da refeição, quando já levantaram os tabuleiros e as mesas mais pequenas e instáveis do mundo estão arrumadas, o Manuel lembra-se que, afinal, quer mais Coca-cola. Então carrega no botão para chamar a hospedeira e pede mais uma Coca-cola. Depois de bebida, e porque o Manuel não gosta de ficar com copos vazios, vai daí toca novamente no botão para chamar a hospedeira que, incompetência das incompetências!, não é vidente e não estava lá no preciso segundo em que o Manuel acabou a sua bebida.
Tomada a refeição e findas as idas à casa de banho, o Manuel aborrece-se. Já leu a revista do avião pelo menos 7 vezes e, mesmo sendo um homem viajado, nunca traz livro. Então o Manuel, oblivious do facto de ser altamente proibido e perigoso, decide ligar o telemóvel, que assim sempre se entretém a limpar mensagens antigas e ainda faz uns jogos de serpente.
Na aterragem o Manuel faz questão de mostrar que é um homem com muito que fazer e com pouco tempo. Mal o avião toca o chão, o Manuel levanta-se que nem uma mola para ir tirar as suas 17 malas de mão dos compartimentos, atropelando umas tantas cabeças pelo caminho com os braços, casaco e malas. E o Manuel, que é um homem organizado, começa logo a formar uma fila no corredor para sair do avião, independentemente da hospedeira ter pedido, repetidamente, para só se levantarem quando o sinal do cinto de segurança estiver desligado e do lugar dele ser o 34A e ter ainda uma centena de pessoas à frente.
E, de pé à espera na fila para sair do avião (o que ele gosta de filas!), o Manuel pega no telemóvel – que acabou por nem sequer desligar na aterragem (pôs em modo silêncio, que é igual) – e telefona para o familiar que espera por ele na sala das chegadas: “’Tou? Olha, acabei de aterrar. Não, não, ainda estou no avião. Mas já aterrei. Vá, já aí estás? Estás com quem? A sério? Passa lá. ‘Tou! Olá! Então? É, acabei de aterrar. Não, ainda estou no avião, vou agora. Vá, até já”.
Chegado ao aeroporto, o Manuel vai a correr para o tapete das malas porque, como já se sabe, o Manuel é gosta de ser o primeiro a chegar! E, como também se sabe, se há serviço rápido e eficiente em Portugal é o serviço das malas no aeroporto de Lisboa: uí, aquilo é que é! Uma pessoa às vezes só espera 2 horas, um ápice.

É por estas e por outras que estou a ponderar seriamente ir a Pequim… de carro!

Monday 27 April 2009

Old age isn't so bad when you consider the alternative...

Com os filmes do Indie mais que esgotados (isto de ter de comprar os bilhetes com dias de antecedência é, no mínimo, absurdo…), ontem vi-me forçada a trocar um filme francês em Alvalade por um italiano no King. E ainda bem.
O Pranzo di Ferragosto trata da história de Gianni, um homem de meia-idade que vive em Roma com a mamma, uma viúva aristocrata em decadência, de quem cuida, com a maior dedicação e ternura. No feriado de 15 de Agosto, a troca de um perdão de dívidas que contraiu para manter o lifestyle da mamma, Gianni vê-se obrigado a tomar conta de mais três idosas: a mãe e tia do senhoria e ainda a mãe do médico amigo.
É um retrato intimista e despretensioso da vida quotidiana italiana e da velhice, no qual o realizador Gianni Di Gregorio consegue evitar os clichés, oferecendo todos os ingredientes essenciais a uma filme deste género: a cena da preparação da pasta al forno é de fazer crescer água na boca, a importância do vinho e do almoço em família, o passeio de vespa pelas ruas desertas de Roma em dia feriado, a solidão e vulnerabilidade dos idosos…
Um filme delicioso que me deixou embevecida de saudades dos meus avós e dos fins-de-semana que passei em Roma com a minha irmã.
A não perder!

Friday 24 April 2009

No matter how long the winter, spring is sure to follow.

Embora o tempo ainda esteja meio tremido e incerto, já apanhámos aí uns valentes dias de sol e calor. Pode dizer-se com confiança e à boca cheia: chegou a Primavera! Adoro a Primavera. Não tanto pela Primavera em si mas tão só porque significa que vem lá o Verão. Aaaah, o Verão. Aquela estação maravilhosa de dias longos, sol quente, mar salgado, noites tórridas e Lisboa sem chefes, sem trânsito e cheia de lugares à porta. E ainda todo um novo guarda-roupa. O budget este ano está curto (com as férias de há umas semanas atrás e a casa nova a partir do mês que vem) mas já vêm duas peças a caminho.

As calças são da Citizens of Humanity, mais uma marca que tarda – estupidamente – em chegar à Europa.

O top é da Mara Hoffman, uma designer americana que ficou conhecida quando a Sarah Jessica Parker vestiu uma das suas peças no Sexo e a Cidade. Tem vestidos divinos, à la Diane Von Fustenberg, lindos de morrer mas com preços igualmente mortíferos… Fiquei-me pela peça bem mais barata ou, melhor dizendo, menos cara. Agora é só trabalhar no bronze e trabalhar tout court para abater a moça no orçamento…

“The most curious offspring of shame is shyness”, Sydney Smith

Entro no meu próprio blogue, corada de pejo, de cabeça vergada e ombros encolhidos, envergonhada de não pôr cá os pés há quase 3 meses… Sinto-me quase compelida a soprar o pó do ecrã e sou capaz de jurar que ouvi o computador chiar quando abriu a página do B’necas.

Quando começamos o B’necas, já lá vai mais de um ano, a Peque-nina e eu fizemos a promessa de que não iríamos deixar morrer o projecto nem o entusiasmo que tínhamos por ele. Era um desígnio nosso, íntimo quase, no qual expressávamos desde os pensamentos mais obscuros e reservados às opiniões mais fúteis e públicas. Pouco nos importava que fosse lido por duas ou mil pessoas (claro que preferimos os mil leitores que deixam comentários e sugestões!) Era o nosso espaço, o nosso security blanket.

Acontece que ambas temos trabalhos absorventes, com horários extenuantes e que nos deixam pouquíssimas oportunidades para dar desenvolvimento ao B’necas. Não pudemos sequer assinalar, no passado dia 19 de Março, o primeiro aniversário do nosso querido blogue.
O trabalho não parece querer diminuir e continuamos assoberbadas, a questionar-nos “Crise? Qual crise?!” e a tentar aproveitar os tempos livres para nos lembrar que temos vida, família e amigos, que há viagens a fazer e noites a percorrer…
Mas prometi a mim mesmo que vou voltar ao activo. Senti falta deste confessionário, admito-o. Abraço-o agora saudosamente e sigo, pois, com o prometido: venham de lá os posts!

Ps: uma palavra de apreço e sincero agradecimento àqueles que estão a ler isto. Significa que não desistiram nem abandonaram o B’necas. Obrigada!